Mateus 5, 10-12
“Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Felizes são vocês quando, por minha causa, lhes injuriarem e lhes perseguirem e, mentido disserem todo tipo de maldade contra vocês. Fiquem imensamente alegres, porque a sua recompensa nos céus é grande, pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vocês”.
Tentamos visualizar o texto das bem-aventuranças como os caminhos de descida daqueles que subiram o monte. Subir o monte é se achegar ao lugar simbólico do Pai, encher-se dos céus. Mas é preciso descer o monte, e se encher também do chão. Se pensarmos os três últimos textos como uma mesma e única bem-aventurança, chegamos aqui ao cume do paradoxo.
Os caminhos da felicidade propostos por Jesus são estranhos para a sua época, mas continuam estranhos para a nossa época, mesmo depois de dois mil anos de impregnação da doutrina cristã.
Chegamos a pensar que a pregação de Jesus não tem muito a ver com a pregação da Igreja. O chamado aqui é a um seguimento tão radical que a última e inevitável conseqüência seria a perseguição.
Ser ofendido, maltratado e caluniado, ou seja, ser perseguido, não é casual ou conjuntural, mas é critério de verificação de como estou caminhando.
Alegrar-se na perseguição, é desafio de encontrar o máximo de exultação, no paradoxo, do máximo preço a ser pago por um seguimento radical, ou seja, que examina as raízes da violência e luta para cortá-las.
A Igreja comumente separou a perseguição por causa da justiça e a perseguição por causa de Jesus. Mas a causa de Jesus era a causa da justiça tomada em sua máxima expressão.
Jesus era um místico, ou seja, para ele Deus não era um conceito distante ou uma discussão filosófica. Deus era o Pai, Abba, que vivia intensamente em sua interioridade, de tal modo que a experiência do Pai e a experiência de si mesmo era praticamente a mesma coisa.
Mas a tarefa de Jesus era a luta por um ser humano mais justo em um mundo mais justo. Um mundo governado pelos valores do Pai.
Transformar Jesus em uma mera figura litúrgica, espécie de religioso interessado apenas em rituais, foi um modo de domesticar a sua lembrança, diminuindo a força de sua mensagem.
O convite de Jesus para segui-lo nos caminhos de descida da montanha sagrada, não apresenta nenhuma dose de ilusão. O resultado será a perseguição dos poderosos e a calúnia dos que vivem de bem nas estruturas vigentes.
Assim aconteceu com todos os profetas. Quem está com o Pai e com os profetas, decidiu por um dos lados da sociedade. Procura estabelecer a mudança radical dos alicerces sociais. Por isso, a perseguição.
Paradoxalmente, por isso também, o motivo da máxima alegria.
Os oito caminhos de descida da montanha sagrada se consumam na perseguição. Eles se entrelaçam, se combinam e se complementam. Na verdade é um único caminho, o caminho estreito. Mas este é o estranho caminho para a felicidade.