Mateus 5,5
“Felizes os mansos porque herdarão a terra”.
Na disputa pelo direito de morar, os violentos parecem levar vantagem; mas Jesus garante para os mansos a herança da terra.
Os caminhos da vida, na descida da montanha sagrada, não passam pela violência, mas pela mansidão. Mas o que é ser manso?
A imagem que está por trás da palavra é a de uma fera sob controle. Somos animais ferozes e a nossa ira é constitutiva. Manso não é, portanto, aquele que nunca se ira, mas quem mantém a sua ferocidade sob rédeas, administrando a sua aplicação.
Passividade adoece; mansidão não pode ser fraqueza nem covardia, mas a sabedoria de aplicar a força do próprio corpo em objetivos justos.
Ser manso é se recusar a participar da estrutura de violência de uma sociedade de injustiça e exploração, que não defende o direito dos pequeninos; pelo contrário, usar toda a força do próprio corpo para derrotar essa sociedade e sua lógica.
Com a força do corpo, mansamente, Gândhi desmontou a violência da estrutura colonialista inglesa que subjugava a Índia, e Martin Luther King Jr, desmontou a violência da lei que oprimia os negros dos Estados Unidos.
“Não-violência”, comenta Gândhi, referindo-se ao Sermão do Monte, é a insistência pela verdade: estar disposto a resistir firmemente à violência opressora, até destruir a mentira de uma estrutura injusta.
Jesus se define como manso, mas aparece dirigindo a sua raiva, de chicote na mão, contra a transformação de sua “casa de oração” em “casa de ladrões”. Fustigando com o azougue os cambistas, fustiga o sistema de exploração econômica que tem o templo como centro.
O último momento de sua atitude de mansidão foi lançar o seu corpo contra a violência da cruz.
O milagre da ressurreição é a certeza de que a violência da morte pode ser destruída pela resistência insistente do corpo.
Com a força do próprio corpo e organizados como corpo, sem terras, sem tetos, sem direitos, sem armas, lutam para tornar a terra lugar de habitação da paz. Eles terão a posse da terra.
"O milagre da ressurreição é a certeza de que a violência da morte pode ser destruída pela resistência insistente do corpo."
ResponderExcluirBelíssima esta frase, é uma nova percepção pouco utilizada em nosso dias, principalmente no meio religioso geral. Nos muitas possibilidades de reflexão e aplicação concreta para a vida.
Parabéns Marcos!