terça-feira, 28 de setembro de 2010

A luta pela posse da terra

Mateus 5,5

“Felizes os mansos porque herdarão a terra”.

Na disputa pelo direito de morar, os violentos parecem levar vantagem; mas Jesus garante para os mansos a herança da terra.

Os caminhos da vida, na descida da montanha sagrada, não passam pela violência, mas pela mansidão. Mas o que é ser manso?

A imagem que está por trás da palavra é a de uma fera sob controle. Somos animais ferozes e a nossa ira é constitutiva. Manso não é, portanto, aquele que nunca se ira, mas quem mantém a sua ferocidade sob rédeas, administrando a sua aplicação.

Passividade adoece; mansidão não pode ser fraqueza nem covardia, mas a sabedoria de aplicar a força do próprio corpo em objetivos justos.

Ser manso é se recusar a participar da estrutura de violência de uma sociedade de injustiça e exploração, que não defende o direito dos pequeninos; pelo contrário, usar toda a força do próprio corpo para derrotar essa sociedade e sua lógica.

Com a força do corpo, mansamente, Gândhi desmontou a violência da estrutura colonialista inglesa que subjugava a Índia, e Martin Luther King Jr, desmontou a violência da lei que oprimia os negros dos Estados Unidos.

“Não-violência”, comenta Gândhi, referindo-se ao Sermão do Monte, é a insistência pela verdade: estar disposto a resistir firmemente à violência opressora, até destruir a mentira de uma estrutura injusta.

Jesus se define como manso, mas aparece dirigindo a sua raiva, de chicote na mão, contra a transformação de sua “casa de oração” em “casa de ladrões”. Fustigando com o azougue os cambistas, fustiga o sistema de exploração econômica que tem o templo como centro.

O último momento de sua atitude de mansidão foi lançar o seu corpo contra a violência da cruz.

O milagre da ressurreição é a certeza de que a violência da morte pode ser destruída pela resistência insistente do corpo.

Com a força do próprio corpo e organizados como corpo, sem terras, sem tetos, sem direitos, sem armas, lutam para tornar a terra lugar de habitação da paz. Eles terão a posse da terra.

Um comentário:

  1. "O milagre da ressurreição é a certeza de que a violência da morte pode ser destruída pela resistência insistente do corpo."

    Belíssima esta frase, é uma nova percepção pouco utilizada em nosso dias, principalmente no meio religioso geral. Nos muitas possibilidades de reflexão e aplicação concreta para a vida.

    Parabéns Marcos!

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