terça-feira, 14 de setembro de 2010

Uma atitude econômica radical

Mateus 5,3

“Felizes os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus”.

O olhar de Jesus no monte traz o reino dos céus para a terra, apontando os caminhos da vida, a tessitura da felicidade.

A mística Santa Teresa d’Ávila dizia de si mesma que mais do que pobre era louca de espírito e não deixam de parecer insanas as veredas apontadas por esse carpinteiro, profeta e mestre, tão Filho de um Pai finalmente aproximado.

O primeiro caminho é de natureza econômica. Romper com a ideologia de Mamom parece ser a passada radical, início de caminhadas outras, de outras naturezas. Despossuir é aprendizado para ser, ou ir sendo, na busca de uma identidade que é desenho que nunca termina.

Uma tradução diz assim: “Felizes os que tem o coração de pobre”, porque não basta ser pobre é preciso aprender a se empobrecer, a trocar de verdade o possessivo “meu” pelo “nosso”. “Quando o pobre nada tem e ainda reparte, vai Deus mesmo em nosso mesmo caminhar” diz o verso da canção, cantiga de não ter, sendo.

O modelo é o próprio Jesus, que deixa a carpintaria, e vai viver a intensidade do reino dos céus, sustentado pelo Pai, como os pássaros dos céus e os lírios dos campos, despreocupado do dia de amanhã, aprendendo a ser Filho.

Uma disputa medieval precisava decidir se Jesus possuía ou apenas usava os poucos bens que levava, suas sandálias e roupas. Era urgente saber se monges e mosteiros podiam dispor livremente de terras e propriedades.

Mas o que é preciso é caminhar que caminho não é posse, apenas passagem e travessia. E nem sempre é o caminheiro quem caminha, mas o caminho quem lhe arrasta o caminhar.

Tão pobre de espírito que lhe resta apenas o corpo, e esse ameaçado pela fome, pela doença e pela opressão. Mas feito assim tão rico que o reino dos céus lhe pertence, enquanto governo, sabedoria, poder e visão de um Deus que ultrapassa todo e qualquer limite dessa injustiça estrutural.

Ser pobre de espírito não é se encontrar passivo diante da força do palácio, da teocracia do templo ou da ideologia do império, mas ser resistente.

Nessa sobra indestrutível, que se chama humanidade e que se chama liberdade, a qual a opressão não consegue dobrar nem o dinheiro comprar, poder e semente de construção de um novo mundo, o reino dos céus na terra.

Nesse novo mundo não há ricos nem pobres, mas irmãos e filhas do mesmo Pai, Pai da justiça, do amor e da felicidade.

2 comentários:

  1. Marcos Monteiro... voz que persiste e resiste, inspirando, mesmo em meio aos gritos do capital. Alguns marcos não podem se perder, jamais.

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  2. O Cristo era solidário, compartilhador, colaborador.
    Seu texto é pertinente num momento em que algumas "igrejas", relacionam a prática cristã a prosperidade material, o que é absurdamente contraditório com a mensagem do Cristo.

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