terça-feira, 5 de outubro de 2010

Procurando os caminhos da justiça

Mateus 5,6

“Felizes os que tem fome e sede de justiça porque serão fartos”.

Descer da montanha sagrada pelo caminho da fome e da sede é lembrar que fome e sede são estruturantes vitais.

Viver é ser faminto e sedento; somos seres definidos pela carência e pelo desejo. O sentimento de falta é estratégia da vida para continuidade e crescimento: a morte é ausência de necessidades.

Ser humano é ter fome e sede, ser feliz é dar qualidade às fomes e sedes de nossa vida. Ter fome e sede de justiça é admitir que justiça é ausência em vivências e estruturas marcadas pela injustiça.

A justiça é uma impossibilidade ontológica; a única possibilidade é o desejo, a carência entranhada, a busca voraz da justiça.

As palavras da montanha nos remetem a imagens de carências radicais: fome insaciável de pessoas subnutridas e sede de beduínos caminhantes de desertos.

Mas fome e sede são radicais em si mesmas. Não há solução para as mesmas, retornam a cada dia. Então, felizes são aqueles que se nutrem diariamente da luta pela justiça, que fazem da justiça a sua comida e bebida de todo dia; aquelas para quem a justiça é visceral.

No ambiente de Jesus de Nazaré, a palavra “justiça” nos remete a relações com Deus, consigo mesmo, com os outros, e à organização das relações sociais.

Portanto, ter fome e sede de justiça, é alimentar voraz e diariamente o desejo de Deus, o desejo por si mesmo, o desejo pelo outro e o desejo por uma sociedade mais justa.

Felizes os que tem fome e sede de Deus, fome e sede de crescimento pessoal, fome e sede de amar pessoas concretas, de carne e osso, fome e sede de um mundo melhor, com estruturas mais justas.

Quem assim alimenta diariamente a sua vida, quem assim dessedenta diariamente a sua paixão, experimentará a fartura e a saciedade.

Estranha promessa, paradoxo das vivências, mas experiência concreta, embora ambígua, de quem assume as lutas da vida.

Nesse mundo injusto, somos coletores e coletoras de justiça. Quando isso se torna hábito de cada dia, sementes de justiça que colhemos e gotas de justiça que encontramos, transbordam abundantemente sobre nossa fome e sede.

Até porque entendemos que os jardins da esperança e os rios do amor são formados de sementes e de gotas.

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