terça-feira, 7 de setembro de 2010

Subindo a montanha sagrada


Mateus 5, 1-2

“Vendo Jesus as multidões subiu ao monte, e como se assentasse, aproximaram-se dele os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los, dizendo:”

Os montes nos fascinam: desafiam os nossos limites e oferecem espaços de contemplação.

Em uma cadeia de sedução, os montes atraem Jesus, o carpinteiro aprendiz de profeta, que atrai seus estranhos seguidores, que atraem uma estranha multidão de proscritos.

Subindo o monte, Jesus se aproxima dos céus sem deixar de pisar o chão, e se assenta, como um rabino, desalojando simbolicamente os escribas e fariseus, os quais tentavam desalojar “a lei e os profetas” (como vai pronunciar algum dia).

Os montes ampliam a nossa visão e o profeta carpinteiro se torna mestre, trazendo lições do Pai e lições da vida.

As montanhas são sagradas, mas quando Jesus nos leva para o alto, soprando em nossa alma a Brisa de Deus, nos mostra os caminhos da volta, os caminhos para o chão da vida cotidiana, que podem ser caminhos de felicidade.

Mas sua receita de felicidade é estranha: felizes são os que têm coração de pobre, sabem chorar de dor, não são violentos, comem e bebem justiça, sabem parir, desejam intensamente a vida, constroem relações justas, mesmo quando sofrem toda a oposição dos injustos.

Abrindo a sua boca, Jesus partilha o mais íntimo de sua alma, segredos e vivências aprendidos no mistério da contemplação do Pai e da partilha de vida pelas pequenas aldeias da Galiléia.

Lugar que não era bem lugar, de povo que não era bem povo. Felicidade tem tempo e tem espaço, história e geografia, e passa pelo corpo.

A história e a geografia da felicidade é hora e lugar do oprimido e o corpo torturado do proscrito (homens, mulheres, crianças, pobres, pecadores, discriminados) é o barro da nova sociedade que surge como palavra de ordem e grito de guerra: “Reino de Deus”.

O governo de Deus não passa nem pelo templo, nem pelo palácio, e não requisita o corpo atlético dos opressores.

O governo de Deus desce do monte para a vida, pelos caminhos percorridos pelos corpos explorados e torturados das vítimas da religião e vítimas do Império.

3 comentários:

  1. Reflexões profundas de um pastor sensível ao clamor dos que sofrem.

    Saramago, no seu evangelho segundo JC, diz que no sermão do monte, Deus se "descuidou" e Jesus falou mais proximamente dos homens e "bem aventurou" os que se comprometiam com a compaixão pelos homens que Ele sentia: os que choram, os mansos, os que tem fome e sede de justiça, os misericordiosos, os pacificadores.

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  2. Tucha, gostei de Saramago em "Memorial do Convento" e não gostei nem em "O homem duplicado" neem no clássico "Ensaio sobre a cegueira" (esperei mais, talvez besteira minha). mas agora vou começar a ler "O evangelho segundo Jesus Cristo", esperando há anos na estante... Com uma recomendação dessas, sua... vou ler com carinho, atenção e certamente prazer...

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  3. Acho q vc vai gostar, um jeito diferente de ver o Cristo, em momentos nos choca, em outros nos surpreende, mas nunca ficamos indiferentes ao personagem.

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