domingo, 8 de abril de 2018

PRISÃO E MORTE DE LULA

racismoambiental
Marcos Monteiro

A prisão concreta e a morte política de Lula já estavam decretadas há muito tempo e o resto seriam os detalhes. Maior do que ele mesmo, o personagem e símbolo Lula parecia impossível de ser contido e a reação lógica dos setores mais poderosos do país se encontra em qualquer manual de história: prisão e pena capital. Com a sentença já definida, os crimes e os autos do processo seguiriam os ritmos ditados pelas circunstâncias e a popularidade mitológica de Lula que ameaça os deuses do Olimpo capitalista acelerou os procedimentos: Lula precisava ser preso e morto politicamente antes das eleições.

Tenho dificuldades de definir a nossa democracia tupiniquim, mas não há dúvida de que ela tem uma tendência nimiamente eleitoral, o que mascara uma real oligarquia plutocrática. Se em qualquer democracia liberal, o poder financeiro estabelece um desequilíbrio de forças, em um país de dimensões continentais como o nosso, esse desequilíbrio é ainda mais desproporcional, dada a nossa história de país ainda colonizado, em que os nossos antepassados, negros importados e índios autóctones, foram submetidos a processos de escravidão e de genocídio.

Então, o ano eleitoral é o momento em que a sociedade como um todo é convidada a exercer o seu pálido direito democrático, escolhendo representantes não tão democráticos assim. Eleição é um procedimento cada vez mais caro, refém, portanto, do poder financeiro. A popularidade irrefreável de Lula traz insegurança à plutocracia disfarçada de democrática quando este se propõe a disputar novamente a presidência. O capital, então, decreta a pena capital e organiza o bacanal em que a cabeça de Lula será servida em uma bandeja.

Mas (ainda bem que sempre há um “mas” em toda narrativa) os deuses do capital que muito entendem de morte nada entendem de ressurreição. Também está nos mais elementares manuais de história que quando uma cabeça é cortada as suas ideias escorrem mais facilmente e ganham vida: ressuscitam em milhões de outras cabeças. O embate de ideias, meio adormecido, se lança fortemente agora, e se tornará inevitavel embate de ruas e embate entre movimentos e instituições. A morte política de Lula se torna possibilidade de ressurreição do socialismo.

E aqui nos colocamos diante de um irônico paradoxo. A presidência de Lula nunca pretendeu ser um projeto socialista. Em momento algum, saiu dos limites do capitalismo. Pelo contrário, favoreceu imensamente o crescimento do capital, enquanto favorecia o máximo (muitos de nós consideramos esse máximo muito mínimo) os interesses dos mais pobres. Portanto, mesmo essa política de conciliação ameaça os interesses dos mais poderosos. Ao enterrarem Lula, por conseguinte, enterram qualquer conciliação e chamam a sociedade para a região do conflito.

Nesse lugar, o personagem e o símbolo Lula cresce em significação por se tornar espaço de confluência de sonhos, de esperanças e de lutas por um mundo melhor. Periferias, movimentos organizados, partidos de esquerda, ou seja, exatamente nos espaços em que o aprendizado democrático acontece mais fortemente, tendem a se aglutinar em torno de sua experiência e legado políticos. Nada será fácil e a luta nunca é simples, mas é luta. Militantes experientes incansáveis mais juventude idealista politizável e insistência existencial formam a mistura capaz de produzir o novo.

Nossas emoções estão combalidas. Por um lado, a celebração em homenagem à Marisa e o discurso de Lula aceleraram o fluir do sangue em nossas veias e reacenderam brilhos esquecidos em nosso olhar. Por outro lado, os comentários superficiais da mídia junto com as esperadas edições tendenciosas de imagem e discurso sempre nos abalam. Pessoalmente, ontem tive picos de ansiedade e hoje amanheci muito triste. No meio religioso, a sensação de que somos muito poucos os progressistas é incômodo antigo. Foi como se a prisão de Lula e a sua pretendida morte política nos encarcerasse e nos assassinasse. Mas (novamente um “mas”) sabemos que precisamos todas e todos de assumir os caminhos da ressurreição e lutar em conjunto por esse novo mundo que sempre advém.

Maceió, 08 de abril de 2018

3 comentários:

  1. https://www.youtube.com/watch?v=1Y5G5KrJ6oI

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  2. Professor Marcos,em outras palavras, a esperança não morre. Obrigado por comprartilhar.

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  3. Pr Marcos, nós, cristãos progressistas, temos a oportunidade de anunciar o Reino de Justiça e Paz, anunciado pelo mestre Jesus de Nazaré. Sigamos em frente, resistindo com esperança e fé...
    Parabéns pelas palavras sábias de alento. Vc faz diferença entre nossos líderes. Deus o abençoe!

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