racismoambiental
Marcos Monteiro
A prisão concreta e a morte política de Lula já estavam
decretadas há muito tempo e o resto seriam os detalhes. Maior do que ele mesmo,
o personagem e símbolo Lula parecia impossível de ser contido e a reação lógica
dos setores mais poderosos do país se encontra em qualquer manual de história:
prisão e pena capital. Com a sentença já definida, os crimes e os autos do
processo seguiriam os ritmos ditados pelas circunstâncias e a popularidade
mitológica de Lula que ameaça os deuses do Olimpo capitalista acelerou os
procedimentos: Lula precisava ser preso e morto politicamente antes das
eleições.
Tenho dificuldades de definir a nossa democracia tupiniquim,
mas não há dúvida de que ela tem uma tendência nimiamente eleitoral, o que
mascara uma real oligarquia plutocrática. Se em qualquer democracia liberal, o
poder financeiro estabelece um desequilíbrio de forças, em um país de dimensões
continentais como o nosso, esse desequilíbrio é ainda mais desproporcional,
dada a nossa história de país ainda colonizado, em que os nossos antepassados,
negros importados e índios autóctones, foram submetidos a processos de
escravidão e de genocídio.
Então, o ano eleitoral é o momento em que a sociedade como
um todo é convidada a exercer o seu pálido direito democrático, escolhendo
representantes não tão democráticos assim. Eleição é um procedimento cada vez
mais caro, refém, portanto, do poder financeiro. A popularidade irrefreável de
Lula traz insegurança à plutocracia disfarçada de democrática quando este se propõe
a disputar novamente a presidência. O capital, então, decreta a pena capital e
organiza o bacanal em que a cabeça de Lula será servida em uma bandeja.
Mas (ainda bem que sempre há um “mas” em toda narrativa) os
deuses do capital que muito entendem de morte nada entendem de ressurreição. Também está
nos mais elementares manuais de história que quando uma cabeça é cortada as
suas ideias escorrem mais facilmente e ganham vida: ressuscitam em milhões de
outras cabeças. O embate de ideias, meio adormecido, se lança fortemente agora,
e se tornará inevitavel embate de ruas e embate entre movimentos e
instituições. A morte política de Lula se torna possibilidade de ressurreição
do socialismo.
E aqui nos colocamos diante de um irônico paradoxo. A
presidência de Lula nunca pretendeu ser um projeto socialista. Em momento
algum, saiu dos limites do capitalismo. Pelo contrário, favoreceu imensamente o
crescimento do capital, enquanto favorecia o máximo (muitos de nós consideramos
esse máximo muito mínimo) os interesses dos mais pobres. Portanto, mesmo essa
política de conciliação ameaça os interesses dos mais poderosos. Ao enterrarem
Lula, por conseguinte, enterram qualquer conciliação e chamam a sociedade para
a região do conflito.
Nesse lugar, o personagem e o símbolo Lula cresce em
significação por se tornar espaço de confluência de sonhos, de esperanças e de
lutas por um mundo melhor. Periferias, movimentos organizados, partidos de
esquerda, ou seja, exatamente nos espaços em que o aprendizado democrático
acontece mais fortemente, tendem a se aglutinar em torno de sua experiência e
legado políticos. Nada será fácil e a luta nunca é simples, mas é luta.
Militantes experientes incansáveis mais juventude idealista politizável e
insistência existencial formam a mistura capaz de produzir o novo.
Nossas emoções estão combalidas. Por um lado, a celebração
em homenagem à Marisa e o discurso de Lula aceleraram o fluir do sangue em
nossas veias e reacenderam brilhos esquecidos em nosso olhar. Por outro lado,
os comentários superficiais da mídia junto com as esperadas edições
tendenciosas de imagem e discurso sempre nos abalam. Pessoalmente, ontem tive
picos de ansiedade e hoje amanheci muito triste. No meio religioso, a sensação
de que somos muito poucos os progressistas é incômodo antigo. Foi como se a
prisão de Lula e a sua pretendida morte política nos encarcerasse e nos
assassinasse. Mas (novamente um “mas”) sabemos que precisamos todas e todos de assumir
os caminhos da ressurreição e lutar em conjunto por esse novo mundo que sempre
advém.
Maceió, 08 de abril de 2018
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https://www.youtube.com/watch?v=1Y5G5KrJ6oI
ResponderExcluirProfessor Marcos,em outras palavras, a esperança não morre. Obrigado por comprartilhar.
ResponderExcluirPr Marcos, nós, cristãos progressistas, temos a oportunidade de anunciar o Reino de Justiça e Paz, anunciado pelo mestre Jesus de Nazaré. Sigamos em frente, resistindo com esperança e fé...
ResponderExcluirParabéns pelas palavras sábias de alento. Vc faz diferença entre nossos líderes. Deus o abençoe!