Marcos Monteiro
A notícia me atingiu. O Professor
Efraim (chamado carinhosamente assim por tantas pessoas) mudou de vida. Completou
os seus noventa anos de bela vida intensa e resolveu começar outra,
infinitamente. Perambulei pelo dia, entre tristezas e lembranças, recolhendo
momentos, desses que se agarram para sempre em nossa pele e no coração.
Foi um privilégio conviver com o
professor Efraim, boa parte da minha
vida na mesma casa. Possuía uma sabedoria maior do que ele mesmo (e ele era
grande), porque advinda de uma vida de muitas lutas e de um Deus e de um Jesus com
os quais conversava todo dia. Professor Efraim amava muito Jesus e era muito
amado por Ele (além de ser muito amado por todas e todos nós).
Há poucos anos atrás, ele me
levou ao seu quarto e me mostrou uma camisa nova bem elegante e me explicou: “Marcos,
eu tenho certeza de que Jesus vai voltar antes de eu morrer e comprei essa
camisa para o nosso encontro”. E me explicava que a inimiga chamada morte seria
derrotada com a volta de Jesus. Para ele, então, a chamada Parusia não era
teologia ou doutrina, mas desejo e saudade.
Desajeitamente, confesso, muitas
vezes tento aplicar lições ditas ou não ditas da sua vida. Muito bom em
relações humanas (ou muito humano em suas relações), tratava cada pessoa como
se fosse única e tinha todo o tempo do mundo para ouvir, refletir, aconselhar e
orar com esta. Não interessa se a fila era grande, ou se estava administrando
uma grande empresa, como presenciei no Colégio Americano Batista, quando ele
era o diretor.
Eram duas horas da tarde e havia
mais de dez pessoas esperando para falar com o Professor Efraim que ainda não
havia almoçado. Passei rapidamente pela porta do seu gabinete, somente para um
aceno, através do vidro, e ele me fez entrar. Fiquei meio encabulado e tentei
me apressar, pensando na fila. Mas foi ele que puxou conversa e demorou nos
assuntos e eu saí meio pensativo. Olhei para as pessoas que esperavam e não
achei que estavam ansiosas ou irritadas. Conhecendo o diretor, sabiam que na
sua vez teriam um tratamento pelo qual valia a pena esperar.
Efraim Pinto Benjamim nunca
assumiu o fato de que era pastor, não de uma igreja, que era coisa muito
pequena, mas da humanidade, de qualquer ser humano que precisasse dele ou
cruzasse o seu caminho. Mais de uma vez precisei da sua atenção e do seu
conselho. Diácono batista, líder respeitado, sua palavra em qualquer assembleia
carregava o peso de um oráculo, pronunciamento sábio que resolvia questões e
conflitos e abria o caminho para as melhores decisões.
Em uma das cenas de que lembrei,
ele não estava presente, mas foi trazido à memória. Estávamos celebrando um Dia
dos Pais, na Comunidade de Jesus, em Feira de Santana, e sua filha Cleise ainda
vivia entre nós. Fomos casados e eu sei que ela me amava, mas tinha um amor
todo especial pelo Professor Efraim, seu pai. Cada um referia-se a algo muito
importante sobre o próprio pai e Cleise narrou um momento da infância. Era um Dia dos Pais e ela disse que se
descobriu muito feliz porque seu pai estava em casa, simplesmente.
Nos últimos dias de sua vida,
Cleise ficava impaciente com o contato de algumas pessoas, umas dessas até
eram amigas, mas ficava extremamente feliz quando o seu pai subia pesadamente
as escadas para conversar horas com a filha amada. Esse pai que viajara muito
nunca fora omisso ou irresponsável e sua presença física enchia o ambiente de
Cleise e sua ausência era um tipo de presença diferente, chamada de saudade.
Pois bem, imagino algo que pode
ter acontecido agora. Jesus, sabendo que iria demorar a voltar, não suportou a
saudade de Professor Efraim e resolveu chamá-lo, o que deve ter deixado Cleise
muito feliz. Professor Efraim vestiu a sua camisa nova e partiu e abraçou
Jesus, o qual estava com uma túnica colorida nova, guardada carinhosamente para
esse encontro. A conversa entre eles vai ser prolongada.
Que tocante, Marcos!
ResponderExcluirBelíssimo, Marcos. Tenho - na minha breve convivência com Prof Efraim - boas e leves lembranças dele...
ResponderExcluirUma despedida que não é despedida! Vc e sua capacidade de embelezar as coisas, Marcos! O professor Efraim era um senhor agradável e de olhos que cintilavam cuidado, um olhar para a humanidade que é raro. Que Jesus o receba em sua nova morada, com sua camisa nova e suas histórias sempre tão contagiantes e cheias de lições. Eternizado ele já está nesta tua crônica nada triste. Com carinho, Aníssima.
ResponderExcluirMemória e vida irradiante,tanto quanto suas belas palavras.
ResponderExcluirOi, Marcos, quão próprio de sua competência e quão verdadeiro se fez nessas considerações sobre o estimado Professor Efraim! Saudade grande! Um abraço do Válter Sales.
ResponderExcluirUm abraço afetuoso.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirSimplesmente maravilhoso!!!
ResponderExcluirMuito legal, Marcos! Um grande abraço em vc, Samir e Zailda.
ResponderExcluirVictor, um bom modo de saber notícias suas. Como vai sua vida? Vou dar lembranças a
ExcluirSamir e Zailda sim. Um abraço.
Muito lindo este texto Marcos...que Deus conforte toda a família.
ResponderExcluirAs pessoas maravilhosas deixam marcas maravilhosas e serão sempre lembradas por isso, como Cleise e seu pai. Bela homenagem, Mascos.
ResponderExcluirEste é seu Efraim, um homem que adorava conversar e dar conselhos.
ResponderExcluirLindo texto.
Beijos para toda sua família.
Alba Janes