Marcos Monteiro
O discurso que autoriza o ódio e legitima o preconceito está
sendo repetido, quase como um jogral, por pessoas boas, amigas e amigos de
nosso círculo de relações, respeitados por nós em suas atitudes pessoais e em
sua afetividade cotidiana, de tal modo que a frase de Martin Luther King Jr, “o
que me incomoda não são os gritos dos maus, mas o silêncio dos bons” tornou-se
desatualizada.
Os bons estão falando e a sua fala nos aterroriza muito mais
do que os gritos dos maus. Previsivelmente, “pessoas de bem” repetem a
ideologia das “pessoas de bens”, trocadilho que estabelece ligações entre a
semântica e a violência. E ainda mais, a hegemonia branca, cristã,
androcêntrica, patriarcal, gera um discurso repetido por gente boa, cuja
violência simbólica se traduz cada vez mais em violência física.
A raiva é conhecida como o tipo de emoção acumulativa e vem
sendo culturalmente alimentada em muitas instâncias. A família e a igreja,
atualmente, têm sido os foles que sopram o tempo todo e alastram o incêndio que
atinge a nossa sociedade atual. As falas e vídeos preconceituosos derivam
ciclicamente contra os partidos de esquerda para os homo e transexuais e para
as religiões de matriz africana, produzindo turbilhões de violência cada vez
maiores.
Em uma semana, um conjunto de falas preconceituosas
atingindo somente políticos e partidos de esquerda. Na outra, uma indignação
desproporcional sobre uma amostra “queer” de arte. E agora, o ataque a cultos
afros por traficantes, em nome do evangelho, muitos criados em ambientes
cristãos que consideram a religião negra demoníaca.
Gosto muito de um vídeo do pastor Henrique Vieira que afirma
que esses discursos, pronunciamentos e
atitudes, não definem a totalidade do campo evangélico. Reconhecemos isso com
muita alegria. Entretanto, admitimos com pesar que a imensa maioria da igreja
evangélica, incluindo as tradicionais (de certo modo é mais cômodo lançar a
culpa sobre os neo-pentecostais), manuseia uma hermenêutica e uma teologia
preconceituosas. A bancada evangélica não representa a totalidade, mas temo que
represente proporcionalmente a esmagadora maioria do pensamento evangélico.
Portanto, tenho saudade do silêncio dos bons, mas acredito
na insatisfação juvenil e na combatividade insistente da militância. Esses não
se calam nunca e precisam falar mais e organizar o embate, porque estamos
praticamente em guerra declarada. Nesses momentos, as armas da justiça, da paz
e do amor, precisam enfrentar a maldade embutida em nossas instituições.
Nós que sofremos as dores da violência da opressão, também
precisamos, como nos lembra bem Paulo Freire, da raiva para combatê-la. A
violência estrutural, pública e privada, precisa ser enfrentada com apaixonada
indignação. Desse modo, precisamos de uma militância radical que combata não as
causas, mas o combustível discursivo e imagético que alimenta o incêndio cada
vez mais devastador. Tenho saudade do silêncio dos bons e dos corajosos
discursos do pastor e militante evangélico Martin Luther King Jr.
Como se explica, que estes mesmos pontos que hoje praticou estes atos abomináveis, antes estavam contidos em sua fúria assassina? Penso que a maldade que aflora é como que uma serpente rodando dentro de um ovo. Quando São chocados elas nascem. O golpe judiciário legislativo, qual passamos Como que abriu as comportas dessa maldade generalizada que habitava o coração dos "bons". De lá para cá, uma sucessão de maldades com os mais pobres do país, os trabalhadores, os índios, as minorias sexuais, as religiões não majoritárias, os estudantes, os enfermos, etc, etc.
ResponderExcluirO golpe abril forças destruidoras. Penso que a única forma de deter essa escalada de violência e de crimes seja a o Restabelecimento do estado de direito.
Excelente reflexão amigo Marcos. Que bonito e necessário texto. Não nos falemos jamais!
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