sexta-feira, 15 de abril de 2016

NOS ESCOMBROS DA SEGUNDA-FEIRA

capricho


Marcos Monteiro

Domingo próximo será o dia do míssil final contra o governo de Dilma e na segunda-feira perceberemos o caos.  Há muito tempo que vivemos no caos e, provavelmente, os alicerces do sistema capitalista em que nos movemos são caóticos. Com o impeachment de domingo (o qual tem mais chances de acontecer do que as nossas esperanças admitem) acabarão quaisquer ilusões e não dará mais para esconder a desordem que somos ou que nos tornamos.

Quando um impeachment organizado por um legislativo venal, um executivo promíscuo e um judiciário partidarizado consegue se impor, os fragmentos do sistema em que nos movemos ficarão evidentes e os tumores malignos da nossa sociedade não mais poderão ser maquiados.

Vivemos uma guerra civil cada vez menos disfarçada e a votação de domingo será um momento em que todos serão forçados a tirar as máscaras. Infelizmente, os mascarados da nossa sociedade não participam de um baile, mas de uma sociedade secreta criminosa e preconceituosa, versão pós-moderna da ku-klux-klan.

Os estilhaços do bombardeio constante que atinge o governo atual recairão sobre as vítimas de sempre, os sem-horizontes, que podem inclusive perder direitos pretensamente conquistados. A complexidade e morosidade da justiça, às vezes, transformam conquistas em teimosa esperança ou deslumbrante ilusão, fora o vício conhecido de um poder legislativo que se empenha em cada vez mais diminuir direitos tão mínimos.

Consumado o impeachment, alguns de nós nos sentiremos mais frágeis do que nunca, certos de que o carnaval promovido pela troça da ingenuidade com o bloco dos descarados prenuncia uma macabra euforia da parte mais despolitizada da população, comandada pelo cinismo do jogo de interesses. Não temos nenhuma evidência para acreditar que a matilha açulada contra o governo continuará uivando e estraçalhando até se voltar contra si mesma. Não há em nenhum lugar da história notícias de algum suicídio coletivo de criminosos contumazes. Esperar que o combate à corrupção promovida por corruptos seja alguma coisa mais do que cortina de fumaça é alucinação e desvario.

A sensação de muitos de nós é que o crescente conflito pode se tornar incontrolável, até porque a violência simbólica é acréscimo e autorização para a violência física.

Então, segunda-feira é o dia dos escombros. Se o impeachment acontecer, os fragmentos de nossa constituição e de nossas instituições encherão o nosso espaço, e a nossa democracia, já tão remendada, se espalhará em cacos pelo chão.

Por outro lado, se houver um número pequeno mas suficiente de deputados com a coragem de resistir, se a repercussão das mobilizações sociais organizadas, a pressão de setores da sociedade civil e a advertência internacional sobre a ilegitimidade do processo se transformar em consciência política para evitar o golpe, então o que estarão em pedaços serão as manobras espúrias e as articulações sigilosas perversas. Sobre tais escombros poderemos reinventar o carnaval da esperança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário