capricho |
Marcos Monteiro
Domingo próximo será o dia do míssil final contra o governo
de Dilma e na segunda-feira perceberemos o caos. Há muito tempo que vivemos no caos e,
provavelmente, os alicerces do sistema capitalista em que nos movemos são
caóticos. Com o impeachment de domingo (o qual tem mais chances de acontecer do
que as nossas esperanças admitem) acabarão quaisquer ilusões e não dará mais
para esconder a desordem que somos ou que nos tornamos.
Quando um impeachment organizado por um legislativo venal,
um executivo promíscuo e um judiciário partidarizado consegue se impor, os
fragmentos do sistema em que nos movemos ficarão evidentes e os tumores
malignos da nossa sociedade não mais poderão ser maquiados.
Vivemos uma guerra civil cada vez menos disfarçada e a
votação de domingo será um momento em que todos serão forçados a tirar as
máscaras. Infelizmente, os mascarados da nossa sociedade não participam de um
baile, mas de uma sociedade secreta criminosa e preconceituosa, versão
pós-moderna da ku-klux-klan.
Os estilhaços do bombardeio constante que atinge o governo
atual recairão sobre as vítimas de sempre, os sem-horizontes, que podem
inclusive perder direitos pretensamente conquistados. A complexidade e
morosidade da justiça, às vezes, transformam conquistas em teimosa esperança ou
deslumbrante ilusão, fora o vício conhecido de um poder legislativo que se
empenha em cada vez mais diminuir direitos tão mínimos.
Consumado o impeachment, alguns de nós nos sentiremos mais frágeis
do que nunca, certos de que o carnaval promovido pela troça da ingenuidade com
o bloco dos descarados prenuncia uma macabra euforia da parte mais
despolitizada da população, comandada pelo cinismo do jogo de interesses. Não
temos nenhuma evidência para acreditar que a matilha açulada contra o governo
continuará uivando e estraçalhando até se voltar contra si mesma. Não há em
nenhum lugar da história notícias de algum suicídio coletivo de criminosos
contumazes. Esperar que o combate à corrupção promovida por corruptos seja
alguma coisa mais do que cortina de fumaça é alucinação e desvario.
A sensação de muitos de nós é que o crescente conflito pode
se tornar incontrolável, até porque a violência simbólica é acréscimo e
autorização para a violência física.
Então, segunda-feira é o dia dos escombros. Se o impeachment
acontecer, os fragmentos de nossa constituição e de nossas instituições
encherão o nosso espaço, e a nossa democracia, já tão remendada, se espalhará
em cacos pelo chão.
Por outro lado, se houver um número pequeno mas suficiente
de deputados com a coragem de resistir, se a repercussão das mobilizações
sociais organizadas, a pressão de setores da sociedade civil e a advertência
internacional sobre a ilegitimidade do processo se transformar em consciência
política para evitar o golpe, então o que estarão em pedaços serão as manobras
espúrias e as articulações sigilosas perversas. Sobre tais escombros poderemos
reinventar o carnaval da esperança.
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