emo7iontour |
Maceió, 02 de outubro
de 2018
Por um batismo nas
águas do Amazonas com o pastor Djalma de Ogum
Meu querido inimigo
Se as águas do Jordão não foram suficientes, sugiro um
batismo nas águas do Amazonas. Um batismo coletivo, com pastor, padre, líderes
de outras religiões, mas especialmente com um pajé e uma mãe de santo.
Mergulhando profundamente nesse caudal, quem sabe você entenda mais a alma
brasileira, negra e índia, e aprenda o significado de quilombos e reservas
indígenas.
Imaginei você saindo desse batismo como um outro homem, e
ouvi a música harmônica do Coral Ecumênico da Bahia acompanhando essa saída.
Olha, eu preferia estar escrevendo cartas para o amigo que idealizou esse coro.
Como é difícil amar você, meu inimigo, e como é fácil amar o meu amigo, o
pastor Djalma Torres. Ele tem quase oitenta anos e está fragilizado, nesses
instantes, brigando contra um câncer, mais uma imensa luta na sua história.
Ele é muito respeitado e muito amado pelas lideranças
religiosas de Salvador, evangélicas, católicos, espíritas, mães de santo e quem
for se achegando. Por causa disso, ganhou um prêmio nacional de direitos
humanos, exatamente na área de diálogo inter-religioso. E, sinto lhe informar,
meu inimigo, você não é muito bom em direitos e diálogo, nem em debates.
Poderia dizer, por concessão, que você grita bem, mas até nisso, Hitler, por
exemplo, era melhor do que você. Pois é, pastor Djalma, conhecido como Djalma
de Ogum, parece-me o contrário de tudo o que você representa.
Quando jovem pastor, ele era líder admirado na Convenção
Batista, essa que tende a lhe apoiar, mas foi expulso e fala disso com muita
dor. Os amigos influentes que frequentavam a sua casa desapareceram, e
começaram muitos um processo de difamação e demonização muito comum no meio
evangélico. Quem não é compreendido é chamado de diabo. O demônio é sempre o
outro, o adepto do candomblé, por exemplo.
A história da sua expulsão foi assim. Djalma era pastor de
uma grande e próspera igreja batista, quando foi convidado a visitar jovens
presos políticos, os quais se opunham à ditadura e voltou perplexo. Encontrou
uma juventude inteligente e idealista que queria lutar por um mundo melhor, em
vez dos terroristas que alguns, inclusive o seu herói torturador e o seu
general de estimação, denominam. Depois, decisão nada fácil, resolveu deixar o
pastorado da igreja grande e acompanhar um pequeno grupo de jovens, expulsos de
outra igreja grande porque não concordavam com o regime militar, nem com a
subserviência dos evangélicos. A igreja assumiu uma postura acolhedora e
ecumênica, o que foi o pretexto para a expulsão da Convenção Brasileira.
Antes que você se apresse, quero informar que Djalma Torres,
pode se assumir como de esquerda, porque luta sempre por mais direitos,
especialmente para as mais sofredoras dessa sociedade perversa, mas sempre foi
crítico de Lula e do PT. Se o conheço bem, vai votar em Hadad somente no
segundo turno, porque nunca votaria em você em nenhum cenário. Como já disse,
ele é o seu oposto.
Mas, continuemos. Quando expulso, descobriu o segredo
central do evangelho: a salvação vem das margens. O marginalizado, Jesus de
Nazaré, é aquele que nos guia para conhecer a boa notícia, não disponível nas
instituições, nem mesmo nas igrejas. Então, participou das mais fecundas
iniciativas evangélicas e ecumênicas do período. ITEBA, CESE, CEDI, CEPTAS,
CLAI, CONIC, CEPESC, são siglas que merecem ser pesquisadas por você e todo
presidenciável, e a surpreendente KOINONIA, organização evangélica que trabalha
para a defesa da liberdade e da autoestima das pessoas pertencentes a religiões
de matriz africana.
Mas, o Instituto Memorial de Canudos, talvez seja a sua mais
significativa iniciativa. Claro que você já ouviu falar de Canudos, essa grande
cidade que surgiu no interior da Bahia, sob a bênção do beato católico, Antônio
Conselheiro. Afinal, Euclides da Cunha, Machado de Assis, Vargas Llosa, Eduardo
Hoornaert, são alguns dos nomes que tentaram imortalizar essa tragédia
exemplar. Cidade que crescia rapidamente, até se tornar a maior do interior da
Bahia, e que atraía famílias pobres de todos os lugares, em busca dessa
referência mítica, da terra em que “corria rios de leite, por entre ribanceiras
de cuscuz”. Pois bem, pessoas que levavam a pecha de bandidos e bandidas,
negros e índios, se organizaram com a “regra do Conselheiro”, vivendo pacata e
alegremente, mas foram massacrados pelo exército brasileiro, genocídio
denunciado por tantos, no Brasil e no exterior, no início de nossa república, a
qual acumula tantos equívocos e se banhou de sangue inocente tantas vezes.
Percebeu? O pastor Djalma ajudou a documentar essa memória,
ressuscitar Canudos, transformando-a em lugar de pesquisa e peregrinação. Bem
diferente daquela coisa estranha de “bandido bom é bandido morto”. O mais comum
é taxar de bandido, em nossa realidade, aqueles e aquelas que não têm acesso a
direitos essenciais. Djalma ainda pretende escrever o seu livro sobre Canudos,
uma utopia religiosa, e eu estou muito curioso para ler.
Puxa, como é fácil amar Djalma e como é difícil amar você.
Tinha mais coisas, mas eu quero terminar imaginando ainda.
Saindo do batismo no rio Amazonas, nos deparamos com a
floresta, em sua exuberância tropical, a qual pode ser o poema da
convivialidade brasileira em diversidade multicultural. Mas, eu queria entender
melhor uma coisa. Que ideia é essa de extinguir as jabuticabas? Foi isso mesmo
que o seu general de estimação quis dizer? As jabuticabas são os direitos de
trabalhadoras e trabalhadores? Então é para cortar salário, aposentadoria,
aumentar horas, diminuir licença maternidade, manter a desigualdade salarial
entre homens e mulheres, prejudicar os direitos dos pobres?
E mais, extinguir o décimo-terceiro? Aí é exagero que até
comerciantes se assustaram. Todo economista sabe que décimo-terceiro e outras
jabuticabas aquecem a economia. Ainda bem que você desautorizou esse discurso.
Atingia diretamente os direitos dos seus adoradores. Mas como parlamentar, até
agora, você apoiou todas as medidas contra trabalhadoras e trabalhadores. E se
o seu general, se invocar e quiser acabar com todas as jabuticabas? Afinal,
posto é posto, e a patente de capitão é menor. Mas meu querido inimigo, vamos
lutar por um país com muito mais direitos. Sem ódio, sem armas e com muitas
jabuticabas.
Então, facilite o meu amor. Mergulhe no rio Amazonas e mude
de vida e de discurso. E desista dessa mania de querer ser presidente. Vai ser
um desastre. Para você, para o Brasil, para o Amazonas e para as jabuticabas.
No aprendizado do amor
Bela homenagem!
ResponderExcluirDjalma Torres é sem nenhuma sombra de dúvida, um pastor que atende ao chamado de Cristo, pelas almas, por amor, respeito, e um ser humano extraordinário e tenho o privilégio de o conhecer! Pastor Djalma em seu livro Caminhos de Pedra, nos fala a respeito de sua árdua caminhada, sua luta para que as pessoas compreedamc que e necessário uma unidade e não a divisão de entidades! Somos um em Cristo! Membro fundador do Instituto Popular Memorial de Canudos, faz parte da comissão da Romaria e tem sido pessoa de findafundam importância nesse dialogo, nas causas sociais, sempre lutando pela ideiais de Canudos!