3dejulhonotícias |
Maceió, 30 de setembro
de 2018
Em nome de todos os
bigodudos e bigodudas
Meu querido inimigo
A minha carta de hoje é dolorosa e precisa partir dessa
entrevista publicada em junho de 2011 na revista “Playboy”:
“Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma
de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça
com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo.”
Você disse isso mas não é homofóbico, até aparece em fotos
com gays e nem vale a pena repetir outras frases, terríveis como essa. Fico
apenas pensando em você, presidente, conseguindo liberar armas para a
humanidade. O que seria dos gays que
você aceita, contanto que não seja seu filho? Pode ser que eu não tenha entendido direito e
seu preconceito seja apenas contra bigode. Mas essa é outra piadinha minha fora
de hora e lugar.
Eu lembro mesmo é de Beto me procurando e pedindo socorro que
seu pai comprara um revólver porque não suportava ter um filho gay e ele tinha
apenas vinte anos de idade. Levamos ele
às pressas para Salvador, enquanto começávamos um acompanhamento e uma conversa
com a família, inclusive com o pai. Estava lembrando aqui que o Brasil não é
mais o campeão mundial de futebol, mas continua sendo o campeão mundial de
assassinato de gays. Em uma sociedade fortemente armada, os caçadores de
humanos exóticos vão matar ainda mais facilmente mendigos, bandidos, índios e
gays, esporte perigoso que não quero acreditar que você apoie.
Essa é uma das maiores dificuldades que enfrento para
conseguir amar você, como Jesus me desafia, meu querido inimigo. Como pastor
evangélico, tenho muitos amigos e amigas, bigodudos e bigodudas, e é em nome de
todas e todos que escrevo essa carta.
Por que insisto tanto em me descrever como pastor
evangélico? Quem me conhece sabe que não costumo fazer isso. Mas, em um momento
em que a imensa maioria da igreja evangélica apoia você, preciso me
identificar. Veja bem, a igreja que lhe apoia é igualmente homofóbica e
responsável por um discurso que autoriza o preconceito, e pior, considera o seu
discurso sagrado, inquestionável. Para ela, Deus detesta gays. Engraçado,
muitos gays que conheço se sentem amados e amadas por Deus, como são e como
estão, mas se sentem rejeitadas pela igreja.
E agora, quero fazer uma confissão pessoal. Eu sou hétero e
já fui tão preconceituoso quanto qualquer pastor e, com toda a dedicação,
tentei curar gays. E aconteceu um milagre. Fui curado! Não sou mais homofóbico!
Tenho muitos amigos e amigas gays e é uma das experiências mais libertadoras
ser acolhido por elas. Elas não têm preconceito, não são heterofóbicas.
Fui curado pelo abraço de Dinho, quando acompanhávamos
pastoralmente um rapaz com câncer terminal e eu estava em choro descontrolado.
Fui curado quando uma amiga amada tentou se suicidar sete vezes, até assumir o
seu amor diferente por outra mulher. E não conheço uma pessoa tão humana quanto
ela. Fui curado por um homem transexual, grande amigo muito amado, por uma
amiga que descobriu que sua filha era apaixonada por mulheres e a aceitou e se
envolveu na luta das mães pela diversidade, e por muitas e muitos. Bigodudas e
bigodudos.
Sinto muito, meu querido inimigo, esse meu texto sangra e
esse sangue tem sido derramado com a autorização do seu discurso irresponsável
e da pregação irresponsável da igreja. Qualquer coisa que cheire a
homossexualidade causa um frenesi desproporcional, mas o assassinato
sistemático de gays nunca é denunciado nem pela igreja e nem por você. É muito
comum nos púlpitos os testemunhos de ex-gays e não quero entrar em polêmica,
mas o testemunho da felicidade de gays cristãos assumidos não interessa a
ninguém, e eu conheço muitos e muitas.
Bem, essa carta é muito importante, porque em nome de todas
as bigodudas e todos os bigodudos cristãos ou não cristãos, e tenho de lembrar
que já existem bastante igrejas inclusivas no Brasil. O assunto poderia render
ainda mais, mas quero voltar ao meu apelo insistente.
Para facilitar o meu amor, procure se curar do preconceito,
e desista dessa nova mania de querer ser presidente. Não vai dar certo. Nem
para você, nem para o Brasil e nem para homossexuais, bigodudas e bigodudos.
No aprendizado do amor
Marcos Monteiro, pastor batista.
Texto belíssimo!Toca nossos corações. Que todos pastores, igrejas e religiões sejam inclusivos.
ResponderExcluirMuito bom
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirSigamos o exemplo do nosso mestre Jesus que não discriminou ninguém e morreu por todos nós!
ResponderExcluirResta-me o silêncio e a reverência frente a tais palavras proféticas...
ResponderExcluirUm grande abraços irmão.
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