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Maceió, 28 de setembro
de 2018
Em respeito à sua mãe
Meu querido inimigo
Escrever para você não é tarefa fácil, mesmo que seja carta de
amor. Tentando amar o inimigo, me sinto como o pescoço que recebe ordens de
amar a bota que lhe pisa.
Já falei que lhe acho mais um farsista e seu discurso fascista
de ódio seria estratégia para se manter na política. Mas você escolheu a imagem
de opressor e a sua fala é machista, misógina, violenta, no mínimo
constrangedora até para as mulheres que lhe apoiam, e pensei na sua mãe, com toda
a ternura que ela merece.
Essa semana fui ao supermercado e assisti a uma dessas conversas
sobre política, entre dez funcionários, cinco homens e cinco mulheres. E
lamento informar que você estava sendo derrotado, havia somente um funcionário
que lhe defendia, argumentava, se orgulhava de votar em você e era homem, macho.
Então, você perdia de nove a um.
A certa altura, me intrometi na discussão e o confrontei com
toda a delicadeza: “Você tem mãe?” e ele respondeu “Tenho”. Impulsivamente, eu
afirmei: “QUEM TEM MÃE NÃO VOTA NELE”. E na minha cabeça virou um slogan que
gostaria de colocar na camisa.
Mas, engraçado, saí com a terna imagem de sua mãe, sabendo
que ela sim, lhe ama, do jeito que você é. Óbvio que as frases sobre mulheres
que não merecem nem ser estupradas (por serem feias? feministas lindas merecem?),
ou que sua única filha mulher nasceu por fraqueza sua, ou que a licença
maternidade prejudica a nação, ou que mulheres devem mesmo ganhar menos do que
os homens, e o descalabro, o qual parece uma concessão, das mulheres andarem
sempre armadas, são frases constrangedoras para qualquer mulher, inclusive sua
mãe.
Mas foram frases impulsivas, garantem os seus admiradores. As
mais incômodas, para mim, foram a defesa da tortura de mulheres durante a
ditadura, e a que disse que cadeia é como coração de mãe.
Quero entender bem. Sua proposta de governo passa por piorar
as condições de trabalho feminino, diminuir ou extinguir a licença maternidade,
admitir a tortura, inclusive de mulheres, armar a população (inclusive a
feminina) e aumentar as prisões? Uma cela superlotada, geradora de mortes, é um
coração de mãe? sempre cabe mais um? Seu projeto de segurança não passa por
moradia, educação, emprego? Somente mais repressão? Fico até com medo que você
institua um Ministério da Tortura, se for eleito.
Mas voltemos aos homens que não pensam em suas mães e nas
poucas mulheres que pensam em votar em você apesar de. Parece que elas dividem
as mulheres em femininas e feministas, de quem são inimigas. Não lembram nunca
que nessa sociedade androcêntrica e patriarcal elas só poderão votar em você
porque as feministas que atacam conseguiram o direito ao sufrágio. Para
conseguir esse e outros direitos, que ainda lhe são negados estrutural e
culturalmente, mulheres lutaram, sofreram e morreram, e essas eram as
feministas. Mas todas se beneficiaram.
Talvez o nosso machismo cultural, o qual explica grande
parte do apoio que você recebe de homens e mulheres, seja do medo dessa
capacidade de resistência feminina. Talvez precisemos criar o termo “ginofobia”
ou “histerofobia” para melhor entender o preconceito dos machos. Mas tenho
certeza de que sua mãe e sua filha lhe amam, destino das mães, e lembrei do
poeta popular, repentista, e de seus versos:
Qualquer mãe por qualquer filho
Se encontra no mesmo amor
A mãe de Cristo e de Judas
Sofreram a mesma dor
Uma pelo filho santo
A outra pelo traidor.
Sua mãe deve lhe amar muito, até
porque o amor de mãe não tem limites. Exatamente como a mãe de um bandido. Mas,
quem tem mãe não pode votar em você, meu querido inimigo. Como pastor, eu não
tenho coragem de desejar para sua mãe, ou filha ou esposas, dez por cento, o
dízimo, do que você deseja para as mulheres.
Estou achando essa carta grande
demais, mas vamos e venhamos: a melhor maneira de sua mãe lhe amar é lutar para
que você mude esse jeito e esse discurso e desista dessa mania de querer ser
presidente. Não vai ser bom para o Brasil, nem para você e nem para as mães.
No aprendizado do amor
Marcos Monteiro, pastor batista.
Muito bem, Marcos. Daí se deduz que a expressão "este aí não tem mãe" se refere a tipos como esse Elenão.
ResponderExcluirComo feminista lhe agradeço pelas palavras. Muita coragem e bondade a sua ainda ter a disposição de escrever uma carta pra 'Ele'. Confesso que eu já não tenho mais paciência pra me dirigir ao inominável homem das botas. Beijo meu primo! #EleNão
ResponderExcluirO pior cego é aquele que não quer ver! Quem defende o #elenão não consegue ver o que está acontecendo com os cristãos na Bolívia, na Venezuela e todos, absolutamente em todos os países que pensam como este pastor...
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