terça-feira, 19 de junho de 2018

OS SEIS E TRINTA ANOS DE ZAILDA


Marcos Monteiro

Zaildinha

No seu aniversário eu quero reinventar a matemática e informar que você completou seis e trinta anos, em vez de trinta e seis, alterando a ordem para reiterar o dia em que comemorei seus seis anos de idade: os trinta vieram de lambuja. Lembro de você todo dia, mas hoje lembrei o dia todo. Quando acordei, quando almocei, quando caminhei e agora, enquanto escrevo, seu jeito suave de menina peralta, com a alegria de brincar de viver e a mania de criar e divulgar verdades.

Como eu sei que você gosta de inventar (não esqueço alguns dos seus planos criativos), fico pensando se você poderia inventar um aplicativo sutil que enviasse mensagens para serem sentidas. Então eu mandaria uma com cheiro de pipoca, com gosto de alface e que lhe acolhesse no colo, como tantas vezes. E quando eu escrevesse as palavras, viriam as imagens de você se jogando nas ondas, as ondas lhe jogando na areia e você, pingo de gente pingando água, meio sorrindo e meio se afogando, se jogando de novo no barulho do mar.

Esse jogo de empurra-empurra você também fazia com o futebol e era a menininha de seis anos, no meio de um pacote de meninos mais fortes, e às vezes você jogava bola e outras vezes a bola jogava você, e às vezes fazia gol e outras o gol lhe fazia. Mas você gostava de sorrir e de correr e também de fazer sorrir e de fazer correr. Tem momentos que eu penso que esse é o seu jeito de ser viva. Você empurra a vida e a vida lhe empurra e então você começa a empurrar de novo.

Ou então, esse é o seu jeito musical de viver, porque música e você sempre foram inseparáveis, amigas de todas as horas, caminho de interioridade que nunca acabou. A música empurra você e você empurra a música, e as duas vão correndo e sorrindo pela vida.

Hoje, você fez seis anos e trinta. Próximo ano, talvez eu consiga que você faça sete e trinta, porque lembrança de quem a gente ama nunca cabe em um aniversário ou em um texto. Lembrei de sua história de menina que quase se afogou quando nasceu e lembrei de sua facilidade de acolher crianças mal acolhidas. No meio da algazarra da criançada, você parava a sua e ia buscar o menino tímido e fora de roda. Você também foi “salva das águas”, como Moisés, mas não tem nome bíblico e não consegue completar mais de seis anos. Moisés precisou de oitenta anos para libertar um povo, e eu desconfio que se eu permitir que você chegue aos sete, você inventa uma revolução.

Lembrei que você foi me ensinando devagarinho a ser pai e um dia eu aprendo, prometo, dentro dos meus seis e sessenta anos. E queria muito aprender a lhe amar com a intensidade com que você ama. Se eu tivesse perto, esse texto eu lhe entregava depois do almoço. Como estou distante, fico imaginando um almoço surpresa que eu prepararia com um sorriso de quem está fazendo traquinagem.

E na mesa tem uma panela de pipoca, uma tigela bem grande de alface, um guisado de berinjela e um charuto de todo tipo para comermos juntos. Para os desavisados, informamos que charuto é o nome da comida árabe que saboreávamos e era uma grande panela repleta de couve, repolho, pimentão, cebola, tomate, berinjela, todos recheados, e que você era capaz de comer quente, frio ou gelado, e todo dia, se tivesse, e ainda levava para a escola, como merenda.

A sobremesa seria um pote de jambo e depois, cantávamos parabéns pra você e eu desejaria solenemente: Feliz aniversário, filha amada, parabéns pelos seus seis e trinta anos.

Maceió, 19 de junho de 2018

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