sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A VITÓRIA INDISCUTÍVEL DE UMA MULHER

Marcos Monteiro*

Dia 31 de outubro comemorei a eleição de Dilma, primeira mulher presidente do Brasil. Parabéns, Dilma!

Mas, dia 3 de novembro, ou seja, logo depois, assisti à vitória indiscutível de minha amiga, Valdenice José Raimundo, defendendo tese de doutorado na UFPE sobre a violência que atinge a população negra e pobre do Brasil. Viva, Valdenice!

Talvez a grande tarefa de Dilma Rousseff seja decretar o dia 03 de novembro feriado, reconhecendo a história realizada pelas mulheres do nosso país. Feriado porque, nesse dia, uma mulher negra e pobre venceu todo o sistema de exclusão, assim configurado, e alcançou um título que deve se tornar em mais um instrumento de sua luta, começo de nova etapa na vida.

O problema de quem são os verdadeiros protagonistas da história não passa pelo sistema eleitoral, nem é acompanhado pelos holofotes dos grandes meios de comunicação. A vida está sendo decidida no cotidiano de pessoas às voltas com a violência prática, resultante de uma violência simbólica, cujo último lugar de resistência é o próprio corpo individual. O corpo social deformado é composto de uma série de corpos individuais mutilados, agredidos por fome, doenças, às vezes, caçados literalmente pelas armas letais de pessoas concretas. Vítimas de discriminação, o preconceito é um acréscimo simbólico de violência, última pedra ultrajante de uma lapidação recorrente.

Valdenice não é apenas uma mulher negra e pobre que caminhou pelo sistema de educação até receber o grau de doutora. È pessoa imbuída de profundo senso de missão que nunca lhe permitiu ficar quieta, entre seus livros e palestras. Nas ruas, com meninos e meninas de ruas, nas favelas, com favelados e faveladas, nas lutas e manifestações contra a violência e contra o preconceito, os textos são caminhos de compreensão, os conceitos são armas de defesa e de ataque, em prol da construção de uma sociedade um pouco mais digna e mais justa.

O diploma de uma mulher negra e pobre e a faixa presidencial dada a uma mulher, de peculiar trajetória política, são momentos simbólicos, densos de esperança. Os símbolos, entretanto, precisam confluir. Dar visibilidade às valdenices é principal tarefa de uma presidente mulher. Mergulhada nas agendas do poder, a tendência natural é o afastamento. Para vencer esse desafio, a presidenta precisa se ver, não como vanguarda, mas como a retaguarda de uma tessitura realizada por mulheres em todos os âmbitos sociais.

Por tudo isso, a vitória de Dilma Rousseff nas urnas precisa ser confirmada, enquanto gestão. A vitória de Valdenice é indiscutível.

Recife, 12 de novembro de 2010

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. e das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055. Veja esse texto também no blog www.informativo-portal.blogspot.com e www.madoniram.blogspot.com

Um comentário:

  1. Marcos, muito obrigada. Estou me sentindo importantekkkkkkkk uma verdade, entretanto, precisa ser dita... O olhar dos bons é capaz de apreender a conquista dos amigos/as com admiração. Obrigada pelo seu olhar.

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