sexta-feira, 1 de outubro de 2010

OITO ANOS DE BRASIL PELA FRENTE

Marcos Monteiro*

Estaremos, sem dúvida, como brasileiros, oferecendo mais oito anos de crédito para o projeto desenvolvimentista atual. Com uma pequena discrepância por parte de Plínio, não houve debate no último debate. Todos os candidatos, elegantemente, no que se chama um debate de “alto nível”, apresentaram praticamente o mesmo projeto, sem trocarem farpas ou acusações, e quase nos avisando a todos de que tanto faz a gerência, a empresa Brasil tem a mesmíssima visão. Um debate de “baixo nível” ofenderia o padrão global, mas talvez nos desse elementos para um diagnóstico mais preciso dos recursos e dificuldades do país.

A sensação é de que estamos avançando celeremente para um nível de primeiro mundo, sem ninguém perguntar se as crises de primeiro mundo nos aguardam no final ou durante a caminhada. Os paradoxos do processo são inevitáveis. Precisamos de uma moeda forte de primeiro mundo e investimentos em dólares de todo o mundo, o que se consegue melhor enfraquecendo a moeda; a moeda forte também atrapalha a balança comercial. Os juros altos controlam a inflação e aumentam a dívida interna. Os pequenos negócios são ameaçados pelas cada vez mais onipresentes multinacionais, mas ambos são estimulados. Precisamos de aumentar a arrecadação de impostos e diminuir a tributação. E por aí vai.

As perguntas sempre adiadas sobre a totalidade, ou sobre o modelo capitalista mundial, mereceriam uma resposta mais urgente. O desequilíbrio ambiental em progressão geométrica nos dará que planeta para administrar? Como estará o ecossistema Brasil, parte do ecossistema terra, daqui a dez anos? Ainda se pode evitar a catástrofe ambiental anunciada e denunciada? Esse modelo de crescimento econômico pode ser aplicado indistintamente, ou pressupõe a desigualdade básica entre países e dentro do país?

Essas questões podem ter formulação matemática mas dependem de soluções políticas, o que já estabelece diferenças de termos e de referenciais.

De todo o modo, estaremos participando com todo o prazer da festa da democracia, que festa é momento de alegria. Depois das eleições é preciso retomar os caminhos cotidianos do exercício político em todos os setores, não apenas no aparato executivo-parlamentar, que democracia popular não se exerce apenas durante a escolha de candidatos, a cada dois anos. Há toda uma rede de relações a ser contemplada e toda uma organização social a ser construída. As “próximas eleições” acontecem todo dia, de modo formal ou informal, em espaços organizados ou não.

Os próximos oito anos de Brasil serão vividos por uma teia social de diferentes nós e diferentes fios, além do aparato político institucional. Sem dúvida, as diretrizes institucionais estão bem claras e os espaços alternativos vivem momentos de insegurança. Existe ainda uma conjuntura internacional ambivalente que pode trazer outros elementos para o nosso cenário. Mas, construtores de novos mundos, navegantes de utopias e caminhantes de mundos sonhados e não sonhados, façamos o nosso exercício eleitoral, tanto nessa festa dominical, quanto nas “próximas eleições” de cada dia.

Feira de Santana, 01 de outubro de 2010


*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também é coordenador do Portal da Vida e faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055. Veja esse texto também no blog http://www.informativo-portal.blogspot.com/

Um comentário:

  1. O debate foi realmente "frio", elegante, digamos. Acho que Marina tb disse para que veio, uma proposta com reflexões sérias para as questões ambientais.

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