Eleição de Dilma na Vila Maravila

Nenhum candidato socialista passou para o segundo turno das eleições; a consternação da Vila Maravila é geral. Plínio Arruda, o único candidato com coragem de falar que era socialista, mobilizou a força carismática de Paranísio que mobilizou a consciência democrática da Vila e lá o candidato do PSOL ganhou folgado.

Mas, segundo turno é segundo turno. E entre dois candidatos capitalistas, sempre tem um mais capitalista ainda. Esse, para todo o mundo é Serra.

A consciência ecológica do pessoal está meio duvidosa. Parte das brincadeiras envolve o tucano, pássaro que de símbolo de brasilidade passou a símbolo dos interesses do capital internacional. Esse é o pior tipo de capital que existe, como sabe toda criança e todo idoso da Vila Maravila, bem doutrinados pela paciência formadora de Paranísio e seus companheiros e companheiras.

– “Tucano agora só pia em inglês” – discursa Paranísio – preocupado com a possibilidade da volta do famigerado PSDB (Político Só Diz Besteira), partido do “finado” FHC (Feio, Herege e Covarde). Naquele tempo a Vila sofria muito, segundo ele, e até a seleção jogava um futebol neo-liberal. Foi quando começou a reação. No meio do ano de 2002, o Brasil ganhou a copa do mundo, jogando um futebol socialista, solidário e corajoso, preparando a virada que aconteceu na eleição de Lula, no fim do mesmo ano.

Toda a Vila sabe que Paranísio esperava muito mais do companheiro Lula, a ponto de chegar à conclusão de que Lula estava sendo substituído por um ator global, enquanto era mantido em cárcere pelos famigerados interesses internacionais. Mas todo o mundo sabe dos transtornos na Vila durante o indecente governo desse esquisito pássaro.

– A polícia se apresentava na Vila toda hora, como se todo o mundo fosse marginal. Tratava trabalhador como bandido, e se fazia greve e passeata, corria o risco de ser demitido ou de ir em cana. Aquilo ali não era “salário mínimo”; o povo recebia o “mínimo” e ficava esperando para ver se chegava salário. Não dava nem para comer direito. Carne, o pessoal lambia os beiços nos anúncios da TV e ia comer pescoço e carcaça de frango no almoço. Por tudo isso e muito mais, morro de fome mas não quero saber de Tucano... nem mesmo guisado. Carne de cobra tem menos veneno.

Desse modo, o pessoal está liberado para o que gosta: para a militância. Agora é Dilma 13. De repente, uma mulher na presidência pode fazer de tudo. Até mesmo uma gestão socialista, teimam em sonhar os moradores.

Portanto, na zona eleitoral da Vila Maravila, Dilma receberá a totalidade dos votos. Bem, tem o caso de Flauribento, o solitário eleitor de Serra, torcedor do Ipiranga, o desafeto. Mas, a turma está preparando uma fabulosa indigestão para o indigesto morador: um caldinho com ingredientes secretos, onde estão incluídos pó de serra e raspa de bico de tucano. No domingo eleitoral, Flauribento não entrará na cabine, estará em um lugar mais adequado para a sua opção política, garante o povo, passará o domingo na privada.