sexta-feira, 8 de outubro de 2010

BICO DE TUCANO COM DENTES DE SERRA

Marcos Monteiro*

O tucano parece ainda caminhar para a extinção, mesmo depois da “onda verde” lhe oferecer uma pequena sobrevida. O problema de predadores nos sistemas ecológicos (e essa espécie de tucano é incrivelmente voraz) é que começam a se devorar entre si, desde que não se sintam mais ameaçados, como acontece na gaiola do PSDB, em que esses pássaros se entreolham ameaçadoramente, bicos prontos para cortarem as asas uns dos outros.

Durante oito anos, fatídica lembrança, os tucanos devoraram as empresas nacionais, as reservas cambiais, os empregos dos trabalhadores, a formação técnica dos adolescentes, os sonhos da juventude e a qualidade de vida do povo em geral. O estado de terror que se instalou sobre o cotidiano das famílias de brasileiros era aumentado pela crescente distorção de uma distribuição de renda perversa e descontrolada. A revoada de tucanos deixava-nos apreensivos durante o dia e apavorados durante a noite, sem nenhuma certeza do sol voltar a brilhar pela manhã.

Com os oito anos seguintes de governo Lula, mesmo quando as reformas não tenham sido as esperadas por grande parte da parcela mais combativa e construtiva da população, pelo menos a esperança voltou a fazer parte do cotidiano do brasileiro, de um modo geral. Uma política de redistribuição de renda, uma oferta muito maior de trabalho, uma política híbrida de esforço desenvolvimentista e vigilância monetária, trouxeram mudanças significativas e muito mais qualidade de vida para a parcela mais sofrida do povo brasileiro.

Portanto, não consigo ter nenhum desejo de acrescentar os dentes de Serra ao bico do tucano. Os equívocos do governo do PSDB vão desde a incapacidade de gestão até aos atrelamentos ideológicos nacionais e internacionais. Comandado pelo grande falcão da Casa Branca, o tucanato abocanhava o produto nacional, sem adivinhar as doenças que aguardavam o grande pássaro maior. O Brasil somente escapou da crise mundial por ter tido uma política de emparelhamento organizado com os mercados emergentes, opção corajosa de relações internacionais do governo Lula.

Os avanços em todos os setores da sociedade são inegáveis, ainda mais se observarmos a herança deixada para ser administrada pelo tucanato. Mesmo desejando mais do que isso, não posso esquecer a sensação de terra devastada como fruto de ataques dos pássaros predadores.

Por tudo isso, em nome do equilíbrio ecológico e da sobrevivência dos mais frágeis, defendo a extinção de todos os tucanos, sem nenhuma vontade de experimentar os dentes de serra dessa nova mutação. Por uma terra sem Serra voto em Dilma no segundo turno.

Feira de Santana, 08 de outubro de 2010.

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também é coordenador do Portal da Vida e faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055. Veja esse texto também no blog http://www.informativo-portal.blogspot.com/

3 comentários:

  1. Não podemos esquecer da história e os equivocos do PSDB. E abaixo o terrorismo eleitoral, com mensagens não verdadeira que confundem o leitor. Devem ser debatidas idéias e proposta de governo.

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  2. É uma pena que nosso povo dê tanto crédito à memória do passado e é por essa causa que teremos segundo turno. O filho de Renan calheiros teve uma eleição vergonhosa e o Collor continua no poder. Quanto ao PSDB, muitos já se esqueceram de quando Serra foi ministro da Saúde na gestão de Fernando Henrique Cardoso, com aquela conversa fiada de SUS, acabou com a SUCAM e com isto, a Dengue que já era problema resolvido voltou a ser uma grande preocupação.

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  3. Só para retificar: é uma pena que nosso povo NÃO dê tanto crédito à memória do passado.

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