sábado, 18 de setembro de 2010

Gestos da cidade

Um jeito de final de tarde em rua deserta e vem vindo alguém. Figura indefinida ao longe se avizinhando e se resolvendo imagem humana e jovem talvez de negro. Diminuo a passada ele diminui acelero ele acelera paro ele para. Jogo meio assim de espelho quem sabe assustador. É preciso caminhar e encarar e caminhamos paramos e encaramos.

Olho no olho e ele é muito feio e enfeio a cara para ficar à altura. Seu corpo é feito de pedra e meu olhar de górgone calcula as chances para saber se chamo o medo. Ele sua. Assustado? ou simplesmente lubrifica os músculos retesados? Somente olho pouca inflexão que as reações têm ritmo e cronologia. Estalo os dedos assim sem parar de olhar sem parar de estalar. Ele se eterniza teso fera acuada ou caçador pronto para o bote mortal.

Não lembro de lembranças no tempo imobilizado. A noite nunca chega o sol está enganchado no último quadrante de minha crise azul.

Não há mais cores disponíveis absorvidas todas pelos meus dedos estalantes e uma pequena coceira na perna esquerda ameaçando o foco. Não me arrisco a distrair o olhar do negro dos seus olhos que sei que o mantenho amarrado assim nem me arrisco ao saber de que a qualquer momento me lanço estraçalhador sobre sua fúria.

Quem fará o primeiro movimento e para quem chegará o primeiro medo? Há medos à espreita? da morte? da vida? do homem? do animal? O de dentro ou o de fora?

Há cheiro de feromônios capaz de atrair todas as fêmeas que se banham nas praias da cercania mas ninguém aparece nem sopra vento nenhum.

Não explico que súbito barulho desequilibrou a cena mas corro alucinado na companhia de todos os terrores chegados agora. Escuto a sua corrida ensurdecedora quase me alcançando e não tenho coragem de olhar para trás mas olho.

E sem nem pensar em parar assisto à sua desabalada carreira em direção contrária.

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