Marcos Monteiro
Desses momentos em que chorar e orar se tornam sinônimos da
minha impotência e recolho pequenas alegrias, como o sorriso da minha filha e o
conforto do café quente deslizando pela garganta.
Enquanto lavo pratos, o dia se aproxima em silêncio passado
e silêncio futuro, nomes próprios e substantivos comuns, fruição e
responsabilidade, lembranças e expectativas.
Venho para o computador e o tempo escorre pelos meus dedos
para um teclado que já foi coisa externa, mas se tornou ao longo da vida órgão
do meu corpo, surpresas da amizade.
Quando a pandemia chegou,”amor e dor” foi cada vez mais se
estabelecendo como rima, mesmo proibida pela canção, até porque recordar, saber
e cuidar é vício da humanidade.
E eu lembro do romance de Camus, “A peste”, e sei que quando
os ratos saem dos seus esconderijos e revelam doença e morte, precisamos
decidir diante dos chamados escancarados, qual a nossa vocação, ou santos, ou
humanos, ou médicos.
Sem saber o que fazer, diante das múltiplas encruzilhadas,
no meu espaço cenobítico em monasticismo involuntário, na Era do Coronavírus,
na Idade do Bolsonauro, simplesmente escrevo.
E faz muito bem! Quem tem o dom de traduzir o meu pensamento e expô-lo assim tão bem,ou é profeta ou bruxo,mas, não sendo um dos dois,é um iluminado! Obrigada por nos alimentar com bons textos nessa terrível era de Coronavírus!
ResponderExcluirEssas pequenas fagulhas de sabedoria são um privilégio de quem tem acesso à intimidade e à própria sabedoria dos deuses mesmo no epicentro da pandemia! Coisa raríssima nos dias atuais!
ResponderExcluirObrigada por nós presentear com um texto que traduz nossa inquietação.
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