segunda-feira, 20 de julho de 2020

AO MEU IRMÃO AMADOR SÉRGIO PAULO NA ERA DO CORONAVÍRUS


Cercado de amadas


Sérgio

Divulgar no meu blog essa carta é reivindicar o direito à indiscrição nessa Era do Coronavírus, na Idade do Bolsonauro. E minha tarefa, designada por seu par Marconi, é escrever celebrando o seu aniversário de sessenta e três anos, indiscrição primeira. Somos sete filhos de D. Honorina, organizados aos pares: os caçulas, Mary Ruth e Pedro Jr carregam as suas lembranças, os quase mais velhos, eu e Áurea Marta, nos acompanhamos infância e adolescência a fora e tem a mais antiga, Ana Maria. Mais do que tudo, essa irmã amada paira acima de todas e todos nós como uma espécie de entidade a ser adorada, apesar da proibição protestante de idolatria. Próprio das divindades, ela forma um par consigo mesma, ou Ana forma um par com Maria; ainda não compreendemos bem esse mistério.

Pois bem, Sérgio Paulo, você e Marconi formam o par do meio, o que não é fácil de explicar ou entender. Marconi, ontem, tentou me explicar que ele é o caçula dos mais velhos e o mais velho dos caçulas, precisamente o irmão do meio, fonte talvez da sua facilidade de ser tão preciso em tudo que faz. Você é o par do nosso irmão mais amado, por nós e por mamãe (menos por papai que só sabia amar mamãe, tão apaixonadamente que nos tornamos detalhe, paisagem, moldura, sei lá). Então, não foi fácil lhe definir, nesse emaranhado de irmãs e irmãos que nos tornamos.

Na tentativa de desenrolar esse novelo, pensei e pensei e estou lhe chamando de “meu irmão mais amador”, apesar de você ter se tornado um excelente profissional. Amar a sua amada, a sua filha, as suas amigas, os seus amigos, as suas irmãs, os seus irmãos, e especialmente a nossa mãe não foi arte aprendida. Nas oficinas do amor, você sempre foi mestre e seu amor não é um romantismo profissional, você sabe ser você mesmo e amar de modo concreto: é um amador. Conversando, confirmamos que todas e todos em algum momento fomos cuidados objetivamente. E o seu cuidado por D. Honorina, nossa mãe, significou a dignidade de uma habitação e o acesso a saúde de qualidade, providenciando vida que se estenderá por mais tempo do que os noventa e cinco anos que ela completou.

Nas lutas sindicais e no partido socialista, o seu amor se tornou mais efetivo ainda, embate por estruturas mais justas e igualitárias, peleja complexa em que nunca se tornou um militante profissional, sempre socialista amador, ampliando jeitos e gestos de sempre ser.

Ontem, estávamos irmãs e irmãos procurando no sótão de lembranças e recolhi duas especiais. A primeira, estávamos conversando sobre dons, os quais na nossa tradição cristã é gratuidade, jeito especial de cada viver para si e para os outros. Jorro da Ruah Divina que nos acolhe e energiza. Lembro que você pensou um pouco e me disse: “o meu dom é ser feliz”. Achei interessante e fiquei interessado, acompanhando a sua trajetória. Será que Almir Sater lhe plagiou? (“Cada um de nós recebe o dom de ser capaz, de ser feliz”). Pois não é que você nunca desaprendeu disso e ainda mais: distribuir felicidade é natural em você, coisa de amador!

Depois, lembrei de você dirigindo uma pequena peça teatral natalina na Igreja Batista do Cordeiro. Nuances teatrais que revelavam uma das paixões que você partilhou. Os livros de teatro que me indicou são caminhos de leitura que nunca abandonei e começo a perceber que alguém sempre lhe imita depois. Dessa vez foi o nosso caçula Pedro Domingues Monteiro Jr, imitador de papai na imagem e no nome e imitador profissional de você no desempenho artístico.
Sérgio de chapéu na mão, mamãe, irmãs e irmãos.


Bem, meu irmão, a sala virtual está aberta e estou querendo ler essa carta na presença dos seus amados. Nessa Era do Coronavírus, na Idade do Bolsonauro, sei que seu amor está sendo desafiado a atitudes complicadas e o dom de ser feliz nos impressiona. Até nessa loucura toda o seu sorriso, bom humor e capacidade de amar concretamente tantas e tantos continua.

Parabéns e continue sendo quem você é, amador apaixonado por pessoas e por valores, como justiça e verdade. E continue amando o amor, tão fragilizado nesses nossos dias.

Do seu irmão
Marcos Monteiro


6 comentários:

  1. Simplesmente emocionante, Marcos!
    Linda história de uma trajetória de amor! Parabéns a todos, em particular ao jovem aniversariante!

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  2. Você meu primo, como sempre, arrasa! Sou sua fã! E de todos os outros pares!

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  3. Esse irmão amador da sua carta é uma testemunha eloquente do que podemos ser como cristãos. Obrigado, Marcos

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  4. Marcos, que delícia de carta! Aposto que Sérgio abriu mais ainda "seu" largo sorriso no rosto e no coração.
    Bjosss.

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