Divulgar no meu blog essa carta é reivindicar o direito à
indiscrição nessa Era do Coronavírus, na Idade do Bolsonauro. E minha tarefa,
designada por seu par Marconi, é escrever celebrando o seu aniversário de
sessenta e três anos, indiscrição primeira. Somos sete filhos de D. Honorina,
organizados aos pares: os caçulas, Mary Ruth e Pedro Jr carregam as suas
lembranças, os quase mais velhos, eu e Áurea Marta, nos acompanhamos infância e
adolescência a fora e tem a mais antiga, Ana Maria. Mais do que tudo, essa irmã
amada paira acima de todas e todos nós como uma espécie de entidade a ser
adorada, apesar da proibição protestante de idolatria. Próprio das divindades,
ela forma um par consigo mesma, ou Ana forma um par com Maria; ainda não
compreendemos bem esse mistério.
Pois bem, Sérgio Paulo, você e Marconi formam o par do meio,
o que não é fácil de explicar ou entender. Marconi, ontem, tentou me explicar
que ele é o caçula dos mais velhos e o mais velho dos caçulas, precisamente o
irmão do meio, fonte talvez da sua facilidade de ser tão preciso em tudo que
faz. Você é o par do nosso irmão mais amado, por nós e por mamãe (menos por
papai que só sabia amar mamãe, tão apaixonadamente que nos tornamos detalhe,
paisagem, moldura, sei lá). Então, não foi fácil lhe definir, nesse emaranhado
de irmãs e irmãos que nos tornamos.
Na tentativa de desenrolar esse novelo, pensei e pensei e
estou lhe chamando de “meu irmão mais amador”, apesar de você ter se tornado um
excelente profissional. Amar a sua amada, a sua filha, as suas amigas, os seus amigos, as
suas irmãs, os seus irmãos, e especialmente a nossa mãe não foi arte aprendida.
Nas oficinas do amor, você sempre foi mestre e seu amor não é um romantismo
profissional, você sabe ser você mesmo e amar de modo concreto: é um amador.
Conversando, confirmamos que todas e todos em algum momento fomos cuidados
objetivamente. E o seu cuidado por D. Honorina, nossa mãe, significou a
dignidade de uma habitação e o acesso a saúde de qualidade, providenciando vida
que se estenderá por mais tempo do que os noventa e cinco anos que ela
completou.
Nas lutas sindicais e no partido socialista, o seu amor se
tornou mais efetivo ainda, embate por estruturas mais justas e igualitárias,
peleja complexa em que nunca se tornou um militante profissional, sempre
socialista amador, ampliando jeitos e gestos de sempre ser.
Ontem, estávamos irmãs e irmãos procurando no sótão de
lembranças e recolhi duas especiais. A primeira, estávamos conversando sobre dons,
os quais na nossa tradição cristã é gratuidade, jeito especial de cada viver
para si e para os outros. Jorro da Ruah Divina que nos acolhe e energiza.
Lembro que você pensou um pouco e me disse: “o meu dom é ser feliz”. Achei interessante
e fiquei interessado, acompanhando a sua trajetória. Será que Almir Sater lhe
plagiou? (“Cada um de nós recebe o dom de ser capaz, de ser feliz”). Pois não é
que você nunca desaprendeu disso e ainda mais: distribuir felicidade é natural
em você, coisa de amador!
Depois, lembrei de você dirigindo uma pequena peça teatral
natalina na Igreja Batista do Cordeiro. Nuances teatrais que revelavam uma das
paixões que você partilhou. Os livros de teatro que me indicou são caminhos de
leitura que nunca abandonei e começo a perceber que alguém sempre lhe imita
depois. Dessa vez foi o nosso caçula Pedro Domingues Monteiro Jr, imitador de
papai na imagem e no nome e imitador profissional de você no desempenho
artístico.
Sérgio de chapéu na mão, mamãe, irmãs e irmãos. |
Bem, meu irmão, a sala virtual está aberta e estou querendo
ler essa carta na presença dos seus amados. Nessa Era do Coronavírus, na Idade
do Bolsonauro, sei que seu amor está sendo desafiado a atitudes complicadas e o
dom de ser feliz nos impressiona. Até nessa loucura toda o seu sorriso, bom
humor e capacidade de amar concretamente tantas e tantos continua.
Parabéns e continue sendo quem você é, amador apaixonado por
pessoas e por valores, como justiça e verdade. E continue amando o amor, tão
fragilizado nesses nossos dias.
Do seu irmão
Marcos Monteiro
Simplesmente emocionante, Marcos!
ResponderExcluirLinda história de uma trajetória de amor! Parabéns a todos, em particular ao jovem aniversariante!
Belo!
ResponderExcluirVocê meu primo, como sempre, arrasa! Sou sua fã! E de todos os outros pares!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEsse irmão amador da sua carta é uma testemunha eloquente do que podemos ser como cristãos. Obrigado, Marcos
ResponderExcluirMarcos, que delícia de carta! Aposto que Sérgio abriu mais ainda "seu" largo sorriso no rosto e no coração.
ResponderExcluirBjosss.