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Êxodo 1-3
“Apascentava Moisés o
rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã; e, levando o rebanho para o
lado ocidental do deserto, chegou ao monte de Javé, a Horebe.
Apareceu-lhe o Anjo
de Javé numa chama de fogo do meio duma sarça; Moisés olhou, e eis que a sarça
ardia no fogo, e a sarça não se consumia.
Então disse consigo
mesmo: Irei para lá, e verei essa grande maravilha, porque a sarça não se
queima.
Vendo Javé que ele se
voltava para ver, Javé do meio da sarça, o chamou e disse: Moisés, Moisés! Ele
respondeu: Eis-me aqui.”
(Ex 3, 1-4).
Êxodo é o livro das
peregrinações, inclusive de um grupo de pessoas, amálgama de famílias
descendentes de Abraão que vão se constituindo em povo. A peregrinação, com
Deus e com Moisés, é também peregrinação existencial, caminhos de se encontrar,
vagar em busca de ser comunidade.
Javé caminha em ritmos desiguais
e inesperados. No primeiro momento, quando de setenta descendentes de Jacó surge
um grupo de cerca de um milhão de pessoas, a ação de Javé parece muito
irregular. Passam-se os anos e Javé não reage ao poder egípcio que tenta
exterminar esse grupo pela multiplicação de trabalho escravo e pelo assassinato
de suas crianças.
O seu cuidado se resume a
encontrar marido para as parteiras que desobedecem ordens do poderoso faraó e a
acompanhar atento a vida desse Moisés que por estratégia de sua mãe é escondido
e depois adotado pela própria princesa, filha do faraó. As parteiras são
artistas do parir e para não destruir vidas, para não desobedecerem a si mesmas
e não negarem a sua vocação, desobedecem e enganam o faraó. Desobediência e
engano são muitas vezes armas dos pequenos diante da arrogância do poder e Javé
apoia isso: sutilezas da ética de Javé.
São os úteros das mulheres e as
suas táticas que multiplicam e protegem esse agrupamento que se sente e é
tratado como estrangeiro no lugar que ora habita. Por ardis femininos, Moisés
cresce em palácio, mas não parece perder a ligação com seu grupo familiar
original. Para defender um hebreu mata um egípcio e tem que fugir para Midiã,
onde constitui família e se torna pastor de ovelhas.
De repente, Javé é tomado de
certa pressa e sai a atrair Moisés pela estratégia da planta que, no meio do
fogo, não se queima. Javé diz para Moisés tirar as sandálias. Talvez mais do
que interdição é convite a caminhar descalço pela terra santa de Deus. Com
muita relutância, Moisés assume a tarefa de libertador dos israelitas, depois
de Javé garantir a sua poderosa ajuda. Os ritmos de Javé são desiguais. Foi
muito o tempo do sofrimento sob a opressão do poderoso faraó.
A planta que não se queima
torna-se parábola talvez dos ritmos da vida. A incandescente opressão do poder
egípcio não conseguiu destruir o grupo dos descendentes de José. Ou talvez dos
sonhos de Moisés. O desejo de libertar o seu povo não foi destruído pela fuga
ou pela rotina de pastor. Mas talvez seja realmente parábola dos ritmos de
Javé. Ele nunca desiste. O tempo não conseguiu destruir sua promessa.
De todo jeito, os ritmos de Javé
são misteriosos. Às vezes, ele simplesmente desaparece, noutras parece que
deixa as coisas acontecerem olhando como de soslaio, repentinamente irrompe com
toda força na história dos seres humanos. Ninguém pode explicar o porquê. Talvez estivesse apenas à espera do
aparecimento de Moisés, um companheiro capaz de encarar a luta.
Marcos, que reflexão linda! Nunca li nada igual.
ResponderExcluirCompreender estes ritmos e manter acessa a chama da fé é o que nos cabe.
ResponderExcluirMuito pertinente e profunda a reflexão. Utilizarei-a em um encontro do Catecumenato da minha comunidade. Grande abraço irmão, que o Senhor lhe recompense com maiores frutos espirituais!
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