terça-feira, 21 de outubro de 2014

PRECISA DE MAIS DEBATE?

Marcos Monteiro

Nenhuma esperança de que haja alguma coisa nova no último debate até porque a pauta e a estratégia escolhida pelos debatedores já estão claras. Não trataremos de nenhum dos temas mais importantes, como os rumos do país diante da pressão do capital internacional, a progressão dos direitos adquiridos pelas minorias, uma reforma tributária radical com taxação das grandes fortunas, uma auditoria corajosa da dívida pública, uma reforma política para maior participação da sociedade civil, por exemplo.

O debate se aproxima cada vez mais de uma modalidade nova de luta livre que poderia ser chamada de UFHC. Recentemente um dos candidatos foi flagrado de se gabar pelo fato da adversária passar mal no fim de um debate. Acredito que se um repórter insistisse ele estaria descrevendo os golpes que teriam acertado o fígado da oponente ou quase quebrado o seu braço. Bem, as más línguas dizem que ele já havia treinado antes.

No ringue do debate, Aécio se apresenta como o desafiante que pretende conquistar o cinturão da presidência. A sua estratégia é muito visível e parece remontar àqueles tempos de criança em que provocamos o colega para que o colega revide e a gente saia chorando para pedir a proteção à professora. O problema é que a oponente é a própria professora que, quando não atinge o nível de criatividade dessa criança travessa, rebate as tentativas com uma autoridade assim meio firme que quase sempre faz o outro ficar desconcertado.

Espero para o próximo debate que Aécio alardeie de ser agredido o tempo todo e que as agressões que ele mesmo faz não sejam levadas em conta. Ou seja, espero que ele chore e reclame como criança manhosa. A única coisa que não sei é se ele vai usar as palavras “leviana” e “mentirosa” que ele preparou para todos os debates, qualquer que fosse o oponente.

Dilma vai apenas dizer que continuará o que ela e Lula começaram. Nesse momento, Aécio vai dizer que trará novidades totais e quando perguntado pelas novidades ele prometerá que vai continuar o Bolsa Família, o Mais Médicos, o PROUNI, o PRONATEC, o Minha Casa é Minha Vida e outros programas afins. Sim, também vai construir mais creches e continuar o PAC, acelerando a transposição do São Francisco. Desse modo, a grande novidade é que um governo tucano vai fazer a mesma coisa do governo atual.

Ou então, a novidade é que se for eleito vai governar sem nenhuma corrupção, vai combater a inflação (a qual ainda não está alta, mas vai ficar) e vai fazer o país crescer mais ainda, apesar da crise internacional. Na esteira disso, vai trazer o escândalo da Petrobrás para o centro, mesmo que depois talvez tenha de explicar construção de Aeroportos, emprego de parentes na sua administração e coisas assim. E se alguém quiser acrescentar problemas graves de corrupção como compra de votos, privatizações precárias com favorecimento de pessoas amigas, ele dirá que estão querendo colocar no seu currículo coisas que pertencem apenas ao seu partido.

Não consigo evitar de pensar que a infantilização do debate é uma tentativa de imbecilização do eleitor.

Lembrando novamente das querelas de crianças, estava pensando naquela tão comum, aquele joguinho de dizer “meu pai é melhor do que o seu”.

Aqui Aécio conta com um dos maiores problemas porque em nenhum momento vai ter coragem de falar mal do pai da Dilma, o Lula, e visivelmente não se orgulha tanto assim do seu pai, FHC, que aliás sempre reclama de como todos os seus afilhados lhe tratam. O máximo que vai dizer é que o Bolsa Família foi inventado por seu pai, o que todo mundo tem dificuldade de acreditar.

Voltando aos adjetivos que gosta de usar, “leviana” e “mentirosa”, passa-me a impressão de que Freud gostaria muito de analisa-lo. Mecanismos de projeção sempre vêm à tona nos nossos momentos de crise, de tal modo que os outros passam a ser espelhos de nosso próprio comportamento.

Diante de tudo isso, se eu tinha alguma dúvida, agora não tenho mais: Aécio me convenceu. Vou votar em Dilma no segundo turno e não preciso assistir a mais nenhum debate.

Feira de Santana, 21 de outubro de 2014

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA e também é um dos pastores da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE. Faz parte da diretoria da Aliança de Batistas do Brasil e é membro do Portal da Vida e da Fraternidade Teológica Latino-Americana.
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055.

Um comentário:

  1. Estive a ver e ler algumas coisas, não li muito, porque espero voltar mais algumas vezes, mas deu para ver a sua dedicação e sempre a prendemos ao ler blogs como o seu.
    Como não passei aqui antes do Natal, e só agora me foi possível.
    Vim também desejar um Ano_Novo cheio de paz,saúde e grandes vitórias.
    São os votos do Peregrino E Servo.
    Abraço.

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