Marcos Monteiro
A performance de Aécio Neves no
primeiro debate do segundo turno foi tão ruim que me deu a impressão de que
qualquer que fosse o interlocutor ele sairia perdendo. Se ainda assim conseguir
ganhar essa eleição, teremos de admitir que a direita é tão poderosa e tão
capaz de reação que consegue eleger até mesmo Aécio.
Típico candidato que me passa a
impressão de que se fosse candidato único sairia em segundo lugar. Aécio conseguiu
ser ruim em postura, compostura, estratégia, argumentação, discurso e imagem.
Dilma bastou ser ela mesma, com aquele discurso firme (quase rude) e
monocórdio, com aquela postura de primeiro sargento ou de professora de escola
primária do interior (dessas que a gente agradece pela autoridade incisiva na
formação de nosso caráter), para derrotá-lo e desmontá-lo fragorosamente.
No último debate do primeiro
turno, Aécio passou a impressão de aluno traquinas, criança criativa capaz de
enfrentar adultos monótonos, arrancando esperanças e sorrisos de toda a classe.
Nesse agora, a criança parecia na
verdade é que era mal-educada e incompetente, cada vez mais insegura diante do
carão da professora, incapaz de se defender de modo convincente e apelando
muitas vezes para a ofensa gratuita e descortês. Muitos de nós tivemos a
impressão de ele estar perto de um descontrole, prestes a partir para a
agressão física, o que não seria novidade para algumas pessoas.
Algumas de suas atitudes no
debate ainda me deixam perplexos. Chamar a adversária de mentirosa e pronunciar
mentiras tão fáceis de se encontrar, como a afirmação de nunca ter perdido uma
eleição em Minas Gerais e não ter nenhum parente em sua administração, por
exemplo.
A difusão de informações no
complexo virtual deveria ter deixado o candidato mais cuidadoso porque agora
basta consultar os aplicativos de pesquisas para conferir certas afirmações.
Agindo do jeito que agiu correu o risco de transformar questões pequenas em
grandes e de passar a imagem duvidosa que passou para qualquer eleitor.
As famosas propostas novas de
Aécio são continuar os programas sociais e manter os avanços em todos os
setores, ou seja a mesma proposta da adversária. A diferença seria a capacidade
de gestão que sua argumentação e sua postura não confirmavam e a sua “limpeza” moral
que também não encontra respaldo nem mesmo entre seus apoiadores e aliados.
Desse modo, não consigo entender
o grande apoio da elite conservadora (que não tem perdido nada no atual
governo) para o seu projeto. Talvez o que Aécio não diz seja o mais decisivo.
O grande novo momento que
preconiza e que não explica claramente como será, parece ser a velha solução de
cortar salários, reduzir concursos públicos, diminuir ganhos da população mais
carente e se aliar mais fortemente aos mercados hegemônicos, com mais
subserviência do que nunca às pressões internacionais.
Isso deixa para muitos de nós a sensação de que as melhores empresas e os maiores bancos do país correm sérios
riscos. Suas costuras e encaminhamentos nos deixam com essa impressão e suas
respostas não são claras.
Aliás, a falta de clareza
predomina em todos os seus projetos. Sua solução para a segurança não passa de
aumentar penas criminais e de por mais polícia nas ruas, solução tão popular
quando inofensiva diante da grande questão da violência urbana. Parece propor
resolver a questão da violência com mais violência.
Aumentar penas para crianças
pobres é muito fácil e conta até com grande apoio popular (apoio lamentável e
duvidoso), mas para quem parece tão indignado com a corrupção não passou pela
sua cabeça em nenhum momento transformar a corrupção em “crime hediondo e
inafiançável” e aumentar a pena para corruptos e corruptores.
Desviar dinheiro de saúde,
educação, saneamento básico e outros serviços públicos, atinge milhões de
pessoas e causa mais mortes do que a ação de crianças e adolescentes
infratores. Mas tais atividades fazem parte do histórico de famílias poderosas
e isso seria tão corajoso quanto taxar as grandes fortunas.
Bem, não quero me alongar em
considerações, afinal votei em Luciana Genro no primeiro turno, mas claro que
votarei em Dilma agora. Especialmente diante do risco da volta de um governo
tucano.
Mas quero lamentar o esboço de um
apoio evangélico a Aécio, por parte de amigos e companheiros de lutas que
aprendi a respeitar. Não consigo entender isso.
Entendo quando pessoas como Silas
Malafaia e Marco Feliciano fazem os seus pronunciamentos preconceituosos e
limitados. Mas não entendo outros pronunciamentos. Também não consigo entender
Marina Silva em suas últimas trajetórias. Qualquer que seja o resultado dessa
eleição, a impressão que me dá é que ela perdeu o caminho e se perdeu de si
mesma.
Feira de Santana, 16 de outubro
de 2014
*Marcos Monteiro é assessor de
pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da
Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA e também é um dos pastores da Primeira
Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE. Faz parte da diretoria da Aliança de
Batistas do Brasil e é membro do Portal da Vida e da Fraternidade Teológica
Latino-Americana.
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055. Veja esse
texto também no blog www.madoniram.blogspot.com.
Camarada, estava aguardando sua fala há semanas. Você é sempre um pastor como deveria todos serem, mostra o quanto é controlado e prudente, ama e por isso nos alerta. Obrigado Marcos. Destaco: "Aumentar penas para crianças pobres é muito fácil e conta até com grande apoio popular (apoio lamentável e duvidoso), mas para quem parece tão indignado com a corrupção não passou pela sua cabeça em nenhum momento transformar a corrupção em “crime hediondo e inafiançável” e aumentar a pena para corruptos e corruptores."
ResponderExcluirCara, esse seu texto é o máximo. O mais legal é que no início parece irônico e cômico, porém muito sério e verdadeiro, prova que esse candidato é realmente uma fraude. Todos os tucanos falam do mesmo jeito, vejo a imagem de muitos "pregadores" de igreja, parece que aprendeu com os "evangélicos" esse tipo de oratória... Massa essa frase: "Típico candidato que me passa a impressão de que se fosse candidato único sairia em segundo lugar."
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