Marcos Monteiro*
Trinta pessoas reunidas em torno
do tema corporeidade e sexualidade, 18 a 20 de maio, construíram um encontro de
densidade e significação histórica. A novidade era a condução das dinâmicas e
do espaço informativo por André Musskopf, doutor em teologia, assumidamente
gay. A maioria das pessoas era heterossexual e o mundo não se acabou por causa
disso, nem a família foi destruída.
A temática de gênero passava por
uma hermenêutica “queer”, palavra que pode ser traduzida por “estranho” ou,
melhor ainda, “esquisito”, termo criado para identificar o comportamento de
pessoas que amam de um modo muito próprio, e agem, por isso, de um modo muito
próprio.
Mas, estranho mesmo foi o fato de
nada parecer estranho. A naturalidade do encontro seria talvez o maior impacto
provocado sobre a nossa consciência cidadã, desde que o homossexual é olhado
com desconfiança, suspeito principal de todas as mazelas de uma sociedade
caótica. Mas, novamente, conversamos, brincamos, participamos de dinâmicas que
incluíam toques e abraços, e nem o mundo se acabou nem a família foi destruída.
A palavra “homofobia” é uma
palavra esquisita, mas sugestiva: “medo do igual”, talvez medo de nós mesmos,
pavor da força de um amor que enfrenta tudo para acontecer e que se realiza de
modo diferente da norma social. O amor homossexual é tão subversivo quanto o
próprio amor, capaz de desorganizar ordens e desautorizar tabelas morais.
Continuar amando, apesar das proibições e dos discursos sagrados e profanos,
mais do que teimosia é emblema da profundidade e da liberdade do próprio amor. Quando
o amor acontece, vem como maremoto que a tudo enfrenta e que não entende de
limites. Amor cujo limite é o próprio desejo de amar.
Para alguns homossexuais que
participaram da vivência, o acolhimento foi terapêutico, não se sentiam
esquisitos por serem diferentes. Para a maioria, hétero, o encontro foi
libertador: a diferença não é ameaçadora, pelo contrário, os esquisitos também
cabem nos espaços. Para os participantes, aliás, a partir de agora, será
esquisito o espaço sem diversidade.
As leis pela igualdade, pela
criminalização do preconceito, estão vindo (às vezes tão lentamente) para deixar
menos vulneráveis as vítimas. Mas é preciso urgentemente organizar os espaços
de convivência, olho no olho, para que a celebração ocupe cada vez mais lugar.
Na conjugação de políticas públicas com mesas de discussão e espaços de convivência,
um mundo mais equânime e mais inclusivo pode brotar com mais naturalidade.
Então, todos poderemos perceber que “esquisito” é o mundo como está agora, com tão poucos espaços para o amor.
Feira de Santana, 05 de junho de
2012
*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do
CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de
Jesus em Feira de Santana, BA e é um dos pastores da Primeira Igreja Batista em
Bultrins, Olinda, PE.. Também faz parte das diretorias do Centro de Ética
Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do
Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055.
Irretocável, como sempre !!!
ResponderExcluirLindo texto, Marcos. Reflete esperança e amor. Saudades.
ResponderExcluirAcredito que as igrejas começaram a "enxergar" a homoafetividade e algumas estão tentando aprender a lidar com as diferença com acolhimento e respeito. Devagar estamos avançando.
ResponderExcluirComo quis ter participado...Mas, eu sou uma quase-participante depois de ler esta "síntese" sobre o encontro! Basta ser humano para ser diferente, estranho ou esquisito..
ResponderExcluirBeijoo Marcoss!
Meu primo queridoooo! Quando eu crescer quero ter esse dom das palavras e da sabedoria como tu tens! Tuas palavras definem a livre orientação sexual de uma forma ímpar...falar da diversidade com tanta naturalidade é sensacional. Teu texto revoluciona, remexe, incomoda a sociedade dos hipócritas e reafirma a máxima de Jesus: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!" Parabéns, excelente reflexão...já compartilhei no meu Facebook. Um beijo no coração!
ResponderExcluir