segunda-feira, 18 de junho de 2012

O SOL DA LIBERDADE


Marcos Monteiro*

Participar de um partido nascente, como o PSOL, é tirar do cabide sonhos e utopias e vestir a camisa da esperança. Houve um tempo em que o socialismo era o sonho de uma maioria e o pesadelo de minorias, as quais curiosamente sempre detiveram o poder. E nesses tempos parecia que o mundo iria mudar logo e para melhor. Os sonhos foram perdendo a cor e as utopias mudaram para tão distante que pareciam ter desaparecido.

Mas sempre acontecem os jovens. Não tendo conhecido de perto o passado das batalhas perdidas, levam os pincéis para pintar de verde a cidade e instrumentos musicais para cantar cantigas e dançar danças, sonhando com liberdade e com utopias. O problema é que os jovens são atores políticos passageiros, envelhecem.

Em vista disso precisamos chamar os poetas, os artistas e os profetas, que insistem em rejuvenescer, dentre eles Paulo Freire, tão jovem que continua vivo na memória do companheiro socialista, Cléo, que nos lembra no seu discurso de articulador: Para Paulo Freire, a esperança não seria mera teimosia, mas “um imperativo existencial”.

Em Feira de Santana, o PSOL é um partido constituído de jovens e de alguns mais velhos que são aprendizes de rejuvenescer, pintando diariamente o tecido da vida com as cores da esperança. Encontros, conversas, debates, são momentos de aprendizado geral e de construção de futuros. Conversamos sobre a cidade, espaço imediato, e sobre o mundo, lugar maior onde todas as cidades habitam.

Mudar a cidade e mudar o mundo são os dois objetivos necessários e trazer de volta a palavra esquecida, amada e temida, “socialismo”, não é mera teimosia, mas imperativo existencial.

No debate sobre ética e política, o companheiro Eduardo Leite nos lembra o dito atribuído a Bismarck: “não perguntem como se fazem as salsichas nem como se faz a política”. E recordo imediatamente de outra frase atribuída ao mesmo e histórico chanceler alemão: “a política é a arte do possível”.

Como descrição, a frase é perfeita, como proposição é vazia. O possível nunca deve ser o horizonte da política, mas o utópico, mesmo que pareça irrealizável. Leonardo Boff nos lembra que só podemos realizar o possível tentando o impossível. Se olharmos com atenção, a história está cheia de impossíveis, surpresas não planejadas e sucessos não previstos.

Nos aproximando cada vez mais de um pleito eleitoral, cantamos a novidade de uma juventude enfrentando uma estrutura e um jeito de fazer política tão antigos quanto o Brasil colonizador e tão ambivalentes quanto discurso de candidato. A tarefa é grande e nenhuma ingenuidade deve nos acompanhar. Mas vale o esforço de tentarmos o impossível para que o sol da liberdade brilhe finalmente sobre nossa cidade. Isso mais uma vez não é mera teimosia, mas imperativo existencial.

Feira de Santana, 30 de março de 2012.

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também é um dos pastores da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE e é membro do Portal da Vida e da Fraternidade Teológica Latino-Americana.
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com

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