Marcos Monteiro*
Participar de um partido
nascente, como o PSOL, é tirar do cabide sonhos e utopias e vestir a camisa da
esperança. Houve um tempo em que o socialismo era o sonho de uma maioria e o
pesadelo de minorias, as quais curiosamente sempre detiveram o poder. E nesses
tempos parecia que o mundo iria mudar logo e para melhor. Os sonhos foram
perdendo a cor e as utopias mudaram para tão distante que pareciam ter
desaparecido.
Mas sempre acontecem os jovens.
Não tendo conhecido de perto o passado das batalhas perdidas, levam os pincéis
para pintar de verde a cidade e instrumentos musicais para cantar cantigas e
dançar danças, sonhando com liberdade e com utopias. O problema é que os jovens
são atores políticos passageiros, envelhecem.
Em vista disso precisamos chamar os
poetas, os artistas e os profetas, que insistem em rejuvenescer, dentre eles
Paulo Freire, tão jovem que continua vivo na memória do companheiro socialista,
Cléo, que nos lembra no seu discurso de articulador: Para Paulo Freire, a
esperança não seria mera teimosia, mas “um imperativo existencial”.
Em Feira de Santana, o PSOL é um
partido constituído de jovens e de alguns mais velhos que são aprendizes de
rejuvenescer, pintando diariamente o tecido da vida com as cores da esperança.
Encontros, conversas, debates, são momentos de aprendizado geral e de
construção de futuros. Conversamos sobre a cidade, espaço imediato, e sobre o
mundo, lugar maior onde todas as cidades habitam.
Mudar a cidade e mudar o mundo são
os dois objetivos necessários e trazer de volta a palavra esquecida, amada e
temida, “socialismo”, não é mera teimosia, mas imperativo existencial.
No debate sobre ética e política,
o companheiro Eduardo Leite nos lembra o dito atribuído a Bismarck: “não
perguntem como se fazem as salsichas nem como se faz a política”. E recordo
imediatamente de outra frase atribuída ao mesmo e histórico chanceler alemão: “a
política é a arte do possível”.
Como descrição, a frase é
perfeita, como proposição é vazia. O possível nunca deve ser o horizonte da
política, mas o utópico, mesmo que pareça irrealizável. Leonardo Boff nos
lembra que só podemos realizar o possível tentando o impossível. Se olharmos
com atenção, a história está cheia de impossíveis, surpresas não planejadas e
sucessos não previstos.
Nos aproximando cada vez mais de
um pleito eleitoral, cantamos a novidade de uma juventude enfrentando uma
estrutura e um jeito de fazer política tão antigos quanto o Brasil colonizador
e tão ambivalentes quanto discurso de candidato. A tarefa é grande e nenhuma ingenuidade
deve nos acompanhar. Mas vale o esforço de tentarmos o impossível para que o
sol da liberdade brilhe finalmente sobre nossa cidade. Isso mais uma vez não é
mera teimosia, mas imperativo existencial.
Feira de Santana, 30 de março de
2012.
*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa
do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de
Jesus em Feira de Santana, BA. Também é um dos pastores da Primeira Igreja
Batista em Bultrins, Olinda, PE e é membro do Portal da Vida e da Fraternidade
Teológica Latino-Americana.
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
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