sexta-feira, 11 de maio de 2012

DA BOCA DAS CRIANÇAS: AS FESTAS DE CHÃ PRETA


Marcos Monteiro*

Estive em Chã Preta com Adriano Trajano, pastor da Igreja Batista local, o que é dizer muito pouco sobre tanta coisa. Sempre inesquecível, percorrer os caminhos da pequena cidade do interior de Alagoas, cercada de montanhas, de beleza e de esperança, é colecionar pessoas e histórias para continuar caminhadas. Por isso, cada momento é de festa e cada história arranca sorrisos das minhas perplexidades e angústias.

Não consigo pensar em Adriano como pastor (aliás, não gosto muito de quem parece pastor), mas como uma criança grande, de barba no rosto e cruz no pescoço, brincando de profeta. Brincadeira perigosa, de criança traquina, dessas que sempre mudam a regra do jogo. Nesses termos, Adriano é um pastor diferente, criança-pastor e profeta-pastor, criança que traz sempre alegria, mas que sempre incomoda.

Convidado a fazer uma palestra, encontrei um auditório de cerca de vinte a trinta pessoas, atentas, envolvidas com o tema, prontas para o diálogo. Encontro organizado pelo PSOL, partido-criança, possibilidade do novo na cidade de antigos caciques acostumados ao antigo jeito clientelista de fazer política. André, candidato a prefeito, também parece levar na alma a pureza de uma criança, candidato sem passado eleitoral, absolutamente ficha-limpa, dessas pessoas sempre disponíveis e prontas para ajudar, queridas por todos que o conhecem.

No culto de domingo à noite, a congregação de cerca de vinte pessoas parecia ter o jeito do pastor Adriano, crianças de todas as idades.

Em seus sete anos de pastorado, Adriano adquiriu o respeito de toda a cidade ao seu jeito próprio de ser. Toda, é modo de dizer, porque os poderes públicos ficam inquietos com suas traquinagens políticas e pastorais. Onde já se viu um pastor organizar uma festa com os diversos artistas da terra, ou uma partida de futebol entre o time local e uma seleção de Maceió, ou um debate entre os candidatos a prefeito da cidade? Na eleição passada isso lhe rendeu ameaças de morte.

Por causa disso, perdeu o espaço da escola pública para realizar suas festas anuais que reúnem trezentas a quatrocentas crianças. Mas ser criança é reinventar espaços e a festa aconteceu na área rural. Mais de duzentas crianças, algumas caminhando quilômetros, acorreram ao local, sedentas da alegria e dos cuidados do pastor-criança. Pura traquinagem de quem gosta de arreliar até com os poderosos, mas brincadeira que coloca os excluídos na dança de roda.

Caminhando pela Chã Preta de pessoas, casas, ruas e montanhas, com a criança grande, de barba cerrada, cruz no pescoço e sorriso nos lábios, percebo que Adriano já faz parte da paisagem e tornou-se pastor da cidade, o que significa um ser político. Às vezes esquecemos que todos somos políticos, queiramos ou não. A novidade, talvez, sejam as crianças. “Das crianças vêm perfeito louvor”, nos dizem os textos sagrados, e as crianças definem a vida como simplesmente “bonita”, nos diz Gonzaguinha. A esperança vem, quem sabe, da política feita “com a pureza da resposta das crianças”.

Feira de Santana, 11 de maio de 2012

 *Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também é um dos pastores da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE, e faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.

Um comentário:

  1. Já estive em Chã preta e admiro o trabalho do pastor Adriano, de forma simples e alegre ele mostra o evangelho na palavra e na vida.

    ResponderExcluir