Marcos Monteiro*
Estive em Chã Preta com Adriano
Trajano, pastor da Igreja Batista local, o que é dizer muito pouco sobre tanta
coisa. Sempre inesquecível, percorrer os caminhos da pequena cidade do interior
de Alagoas, cercada de montanhas, de beleza e de esperança, é colecionar pessoas
e histórias para continuar caminhadas. Por isso, cada momento é de festa e cada
história arranca sorrisos das minhas perplexidades e angústias.
Não consigo pensar em Adriano
como pastor (aliás, não gosto muito de quem parece pastor), mas como uma
criança grande, de barba no rosto e cruz no pescoço, brincando de profeta.
Brincadeira perigosa, de criança traquina, dessas que sempre mudam a regra do
jogo. Nesses termos, Adriano é um pastor diferente, criança-pastor e
profeta-pastor, criança que traz sempre alegria, mas que sempre incomoda.
Convidado a fazer uma palestra,
encontrei um auditório de cerca de vinte a trinta pessoas, atentas, envolvidas
com o tema, prontas para o diálogo. Encontro organizado pelo PSOL,
partido-criança, possibilidade do novo na cidade de antigos caciques
acostumados ao antigo jeito clientelista de fazer política. André, candidato a
prefeito, também parece levar na alma a pureza de uma criança, candidato sem
passado eleitoral, absolutamente ficha-limpa, dessas pessoas sempre disponíveis
e prontas para ajudar, queridas por todos que o conhecem.
No culto de domingo à noite, a
congregação de cerca de vinte pessoas parecia ter o jeito do pastor Adriano,
crianças de todas as idades.
Em seus sete anos de pastorado,
Adriano adquiriu o respeito de toda a cidade ao seu jeito próprio de ser. Toda,
é modo de dizer, porque os poderes públicos ficam inquietos com suas
traquinagens políticas e pastorais. Onde já se viu um pastor organizar uma
festa com os diversos artistas da terra, ou uma partida de futebol entre o time
local e uma seleção de Maceió, ou um debate entre os candidatos a prefeito da
cidade? Na eleição passada isso lhe rendeu ameaças de morte.
Por causa disso, perdeu o espaço
da escola pública para realizar suas festas anuais que reúnem trezentas a
quatrocentas crianças. Mas ser criança é reinventar espaços e a festa aconteceu
na área rural. Mais de duzentas crianças, algumas caminhando quilômetros,
acorreram ao local, sedentas da alegria e dos cuidados do pastor-criança. Pura
traquinagem de quem gosta de arreliar até com os poderosos, mas brincadeira que
coloca os excluídos na dança de roda.
Caminhando pela Chã Preta de
pessoas, casas, ruas e montanhas, com a criança grande, de barba cerrada, cruz
no pescoço e sorriso nos lábios, percebo que Adriano já faz parte da paisagem e
tornou-se pastor da cidade, o que significa um ser político. Às vezes
esquecemos que todos somos políticos, queiramos ou não. A novidade, talvez,
sejam as crianças. “Das crianças vêm perfeito louvor”, nos dizem os textos
sagrados, e as crianças definem a vida como simplesmente “bonita”, nos diz
Gonzaguinha. A esperança vem, quem sabe, da política feita “com a pureza da
resposta das crianças”.
Feira de Santana, 11 de maio de
2012
*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do
CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de
Jesus em Feira de Santana, BA. Também é um dos pastores da Primeira Igreja
Batista em Bultrins, Olinda, PE, e faz parte das diretorias do Centro de Ética
Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do
Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço
Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Já estive em Chã preta e admiro o trabalho do pastor Adriano, de forma simples e alegre ele mostra o evangelho na palavra e na vida.
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