Marcos Monteiro*
A poesia de Olavo Bilac garante
que somente quem ama tem capacidade de “ouvir e de entender estrelas”. Mas às
vezes nos falta estrela no céu – o céu urbano é cada vez mais distante e
nublado – ou nos falta o tempo para conversar com estrelas. Até porque
conversar requer certo tempo e certo espaço que não fazem parte da agenda
pública do mundo de hoje.
“Ora (direis)
ouvir estrelas! Certo
Perdeste o
senso”! E eu vos direi no entanto,
Que, para
ouvi-las, muita vez desperto
E abro as
janelas, pálido de espanto... (Olavo Bilac).
Abrir as janelas para as estrelas
é abrir a existência para a poesia. A vida desfrutada em prosa é distensão útil
para prolongar o tempo, mas não para dar qualidade ao mesmo. Precisamos dos momentos
poéticos garantidos pelo amor para dar profundidade ao roteiro da nossa vida
complexa. Habitamos a terra prosaica e poeticamente e o ser humano tem “fome de
pão e de beleza”. Assim, poesia e literatura não seriam “luxos ornamentais”,
afirma Edgar Morin, porque escolas de vida, escolas de complexidade.
Sem o deslumbramento dos momentos
poéticos não pode haver dignidade humana. Mas dignidade humana é retórica de
discurso de político, nunca programa e projeto. O amor não é considerado pauta
política.
Nesses termos, se poesia e amor
andam juntos, fazer poesia nos dias de hoje é desafio monumental que, nesses
momentos em que o calendário nos oferece um tempo de transição, os escombros do
ano passado e os temores da violência prenunciada não podem servir como
métrica. Uma nova poesia pode ser composta apenas com os vestígios de luz do
tempo que se apagou e com o rajado de verde, disfarçado no jogo de claro e
escuro do cinza das políticas.
Juntar imagens e palavras, usadas
e desusadas, para a nova poesia é aprendizado de alquimista que quase esbarra a
toda hora na pedra filosofal e rodeia sempre as fontes de juventude. Por isso,
os jovens continuam sendo reservatório de esperança e continuam empunhando
bandeiras e conduzindo lutas antigas e novas.
Espaço para o amor e tempo para a
poesia deve ser reivindicação urgente de toda a sociedade. Isso significa
atenção ao caminho dos jovens. Jovens continuam lutando por melhores tarifas
para o transporte público, por uma universidade mais pública e mais gratuita,
por qualidade de vida e tem se envolvido em lutas de sem-teto, sem-terra,
negros e negras, homossexuais, descriminalização de aborto e da maconha. No
mínimo, colocam na ordem do dia antigos e novos problemas.
No ano que passou completei
sessenta anos de idade. E continuo fascinado cada vez mais pelos jovens e pelo
que eles nos propõem, por exemplo, quanto ao amor. Os jovens continuam
defendendo o direito ao amor e a diversas formas de amar, enfrentando tabus e
preconceitos sedimentados. E continuam fazendo poesia e abrindo as janelas para
ouvir as estrelas.
Feira de
Santana, 13 de janeiro de 2012
*Marcos Monteiro é assessor de
pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da
Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também faz parte das diretorias do
Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica
Latino-Americana do Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-5526.
Marcos... lindo texto, fascinante provocação. Belíssima reivindicação da inclusão do amor e da poesia nas pautas sociais. Privilégio ouví-lo, sempre...
ResponderExcluirA poesia como uma saída para mazelas e desigualdades? Quem sabe, né? Não consigo viver sem elas (as quimeras e a poesia), e qto ao amor...Se for introduzido nas pautas políticas será o princípio da GRANDE REVOLUÇÃO!YEAH! O amor é a solução!!Maravilhosa reflexão, querido Madoniran!Beijos.
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