quarta-feira, 28 de julho de 2010

Segunda-feira azeda na Vila Maravila


A segunda-feira encontrou os moradores da Vila Maravila azedos. A vitória de Alonso sobre Felipe Massa e a escolha do técnico Mano Menezes para dirigir a seleção brasileira despertou o mau-humor e ranzinzez do pessoal sobre todas as coisas, incluindo as coisas nacionais e internacionais.

Obrigar primeiro lugar a ser vice e vice passar para primeiro é uma safadeza e aceitar ser passado pra traz somente pra não perder emprego é covardia das grandes e falta de patriotismo na opinião de todo o mundo da Vila. É como se Lula mandasse Dilma ceder espaço nas pesquisas para Marina e Dilma tivesse obedecido como um cachorrinho de pelúcia.

Nesses momentos, para alegria de Paranísio, a Vila fica quase socialista, ou quase chega o “agá”, como costuma desejar o folclórico presidente do Sindicato dos Ambulantes da Vila Maravila. Porque todo mundo diz que o sistema capitalista é que faz rodar os carros da fórmula um. O engenheiro manda e os pilotos obedecem, somente para não perderem o seu emprego, emprego que lhes rendem muito dinheiro. E aí tudo e todos se vendem, transformados classicamente em mercadorias.

Paranísio surpreende como sempre, imaginando que em um mundo socialista ou não haveria corrida e competição ou os atores se comportariam diferente.

– O camarada Alonso – sonha Paranísio – torceria pela primeira vitória do ano do companheiro Massa e Massa poderia deixar o companheiro Alonso passar, solidariamente, pelo fato do outro ter mais chances no campeonato. O engenheiro também poderia combinar um duplo primeiro lugar, os dois chegando juntos, nos mínimos e milimétricos detalhes, já que a Ferrari tem tecnologia para tudo o que se quiser.

Dá para imaginar que, desse jeito, no socialismo de vergonha de Paranísio, os dois corredores se cercariam de gentilezas até chegarem ambos em último lugar...

Mas Fórmula Um não é bem o esporte da Vila Maravila e o azedume maior foi mais uma vez o técnico Poeira não ter sido cogitado para o comando da seleção brasileira. Poeira, responsável, por uma prolongada temporada de vitórias do Maravila F. C. foi chamado para técnico por ser considerado o maior jogador de dominó das paradas. E dominó é o jogo das probabilidades, das incertezas, das estratégias, da atenção aos detalhes e da psicologia, como qualquer criança da Vila sabe.

As proezas de Poeira são conhecidas, bem como a sua aplicação psicológica para posicionar o jogador. Zagueiro deve falar pouco e ter cara feia, meio de campo deve ser meio fala não fala, assim como quem diz desdizendo, como quem afirma negando e nega afirmando, mas atacante deve ser atrevido, falador, farrista e meio moleque para ser bom. Zagueiro de cara bonita vai dar moleza e atacante de fala macia e negaceada vai perder gol a dedéu, assim como meio campo atrevido vai ser expulso toda hora.

Poeira vive afirmando que nunca aceitaria treinar a seleção brasileira, mas Paranísio explica para a turma toda, nessa sua doutrinação paciente que não perde momento adequado ou desadequado, que a convocação do competente técnico da extraordinária Vila, seria a destruição do sistema capitalista e que isso a turma reacionária sabia muito bem. Os capitalistas, explicava, transformaram a alegria do futebol em um grande negócio e o treinador Poeira poderia transformar esse grande negócio em uma grande alegria. E isso era perigoso, muito perigoso, bastante perigoso, absolutamente perigoso.

Um comentário:

  1. Nem sei se já falei isso aqui (aliás, nem sei se já falei aqui rs), mas depois que terminei de ler o "Vila Maravila" passei a sentir uma enorme saudade daquele lugar.

    Ainda bem que agora dá pra matar a saudade revendo os personagens e sua leituras do mundo por aqui.

    Vida longa à Vila!

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