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Quando gripo, fico todo gripado,
corpo, imaginação e os textos. Fico tossindo frases e espirrando metáforas,
encabulado e sem controle.
Quando gripo, preciso de lenços
para enxugar a consciência e assoar as linhas. Me espreguiço pelas páginas e
por meu mal estar, dor de cabeça intermitente no cabeçalho.
Quando gripo, o tempo gripa e
gripa a saudade de você e de poesias. E escrevo tão vagarosamente que as coisas
se arrastam entre os períodos e os olhos pesam.
Quando gripo, a fome desaparece,
a vida encolhe e os textos se apequenam. Os dedos caminham pelos caminhos de
sempre, como se fossem novos ou como se não existissem.
Quando gripo a lua se esconde
atrás das nuvens e os textos se escondem atrás da lua. Respiro com dificuldade
e transpiro textos molhados, inconclusos e febris.
Quando gripo, a existência gripa
e gripam os cajueiros e os textos. Me arrasto pelas categorias gramaticais no
desejo de dialetos e nada sei do nada saber.
Quando gripo, Deus gripa e
troveja sobre a minha consciência lançando raios. Tropeço no tropeço e os
textos descarrilam loucos por desastre.
Quando gripo, gripa a história e
as personagens se confundem com os autores. Os enredos adoecem e se embrulham
pelos papéis do mundo.
Quando gripo a memória gripa e
esqueço até mesmo de esquecer. E então recordo textos tão antigos que eu mesmo
desconhecia e fico à espera de delírios.
Quando gripo a minha humanidade
gripa e gripa toda a humanidade e todos os textos. E termino frases para
recomeçar e concluo textos para nunca concluir.
Quando gripo, fico todo gripado:
corpo, imaginação e os textos.
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