sexta-feira, 11 de outubro de 2013

SOBRE O JOGO E SUAS REGRAS

 
temponews
Marcos Monteiro*

Se um regime democrático é constituído por regras que definem pessoas responsáveis por tomarem decisões em prol de uma coletividade, o jogo político deve ser analisado a partir dos seus jogadores e também das suas regras. Ser democrata seria minimamente cumprir as regras do jogo. Essa definição minimalista que nos remete a Norberto Bobbio não nos revela toda a complexidade que se estabelece quando o jogo começa a ser jogado.

Os jogadores, via de regra, não estão afeitos ao jogo democrático. Em outras palavras, o sistema não disponibiliza uma educação do cidadão que exerce um poder partilhado. Em todas as instâncias da sociedade, seja na empresa, na escola, em instituições e movimentos, a tendência à autocracia, a multiplicação de procedimentos para burlar as regras do jogo, a facilidade de não se fazer prevalecer o interesse da maioria acontece mais comumente. Tornar uma sociedade fortemente hierarquizada em sociedade democrática é o desafio impossível que poucos tentam de verdade.

Quando nos aproximamos de eleições majoritárias, especialmente da eleição presidencial, o jogo se torna mais visível e sua complexidade mais evidente. Ganhar o jogo se torna objetivo máximo (não é esse o objetivo de qualquer jogo?) e as regras são postas em segundo plano. Os interesses individuais achincalham de tal modo os interesses coletivos que esquecemos algumas noções básicas que fazem de uma democracia um sistema mais forte.

No noticiário, as manobras dos presidenciáveis são tão esdrúxulas que fazem do jogo um espetáculo imprevisível em que os pronunciamentos se tornam provisórios e instáveis. Uma rede que não seria um partido tenta virar partido e reclama das regras quando não consegue. Ambientalistas e desenvolvimentistas se unem em torno de um grande ideal: ganhar as eleições, não importando o preço que o planeta terá de pagar depois. Militantes históricos de esquerda e lobistas experimentados de direita conseguem se encontrar também debaixo do mesmo guarda-chuva. E assim vai.

A participação do cidadão nesse jogo democrático acontece de modo tênue e esporádico, escolhendo representantes sem que existam mecanismos claros de prestação de contas do mandato. Os espaços de maior participação, como os conselhos democráticos, orçamentos participativos, congressos de cidadania, tendem via de regra a ser cortinas de fumaça que desviam a atenção para o lugar onde o jogo realmente está sendo jogado.

Então, temos os grandes jogadores desse jogo que sempre saem ganhando, qualquer que seja o resultado de qualquer eleição. Grandes conglomerados econômicos, comandados por oligarquias, são jogadores experientes que sabem manobrar muito bem as regras e procedimentos. Esse poder invisível vicia de saída o jogo democrático, baralho de cartas marcadas distribuídas por seus interesses.

Candidatas e candidatos sabem disso e compreendem que sem parceiros econômicos de peso não conseguem nem mesmo participar do jogo. Uma eleição presidencial é também um grande negócio que requer um grande investimento financeiro. Mais do que convencer eleitores, todo candidato precisa encontrar financiadores para os seus objetivos pessoais. Ganhar o jogo é o que realmente interessa. Seguir as regras, se possível, ou burlar as regras, se a impunidade for garantida, está em função desse objetivo.



*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA e do grupo de pastores da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE. Também faz parte da diretoria da Aliança de Batistas do Brasil e é membro da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil.
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055.

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