quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Aprendendo a ser baiano

serbaianoemassa

Um baiano sozinho não diz a palavra pre-gui-ça: precisa-se de três. Como foi necessário três baianos para criar a piada. Um baiano de Pernambuco, uma baiana de Minas Gerais e um baiano de São Paulo, porque ser baiano não é destino, mas privilégio adquirido por acaso ou por esforço próprio.

A tarefa impossível de encontrar a estratégia para se fazer o maior esforço possível de se fazer o mínimo de esforço possível é compreender que a vida deve ser vivida em fruição. Baiano e baiana assumem qualquer tarefa, de qualquer peso ou duração, para garantir festa e dança de sexta a domingo.

Todo baiano pode torcer por qualquer time: Bahia ou Vitória, pra que mais? Alguns exagerados acrescentam um time do Rio ou de São Paulo, ou de sua cidade natal, Alcobaca ou Uauá, cidade sem consoantes, por exemplo. Ainda aprendiz, continuo torcendo pelo Santa Cruz de Recife. Um time de torcida muito fiel que não disputa as séries A, B ou C do campeonato brasileiro. Meu time já deixou a fase do ABC e agora está na série D. Está progredindo.

Tudo de que se precisa se encontra na Bahia. Na cidade de Feira de Santana, onde moro, temos a capoeira histórica, o reggae universal e um observatório astronômico. Tão astronômico quanto o descaso do governo local para o sistema de transporte em geral. Em minha cidade, quando estamos com pressa, não tomamos ônibus nem táxi, vamos a pé. De vez em quando, algum amigo bem intencionado nos aborda e pergunta:

– Quer uma carona?

E temos de responder, constrangidos:
– Não posso não. Estou apressado.

Mas torcer pelo Bahia, por exemplo, é torcer por time que merece filme e bilheteria lotada. Primeiro campeão brasileiro, campeão de torcida no estádio, o aficcionado paga qualquer ingresso mesmo para ver o time perder. O torcedor do Bahia é um religioso fiel: paga promessa a qualquer santo ou orixá para o Bahia vencer e suas promessas sempre envolvem motivo futebolístico. Vestir a camisa do Bahia por dois anos, sem tirar nem para lavar nem para fazer sexo, por exemplo. Se, por causa disso, ficar dois anos sem sexo, sem problemas, promessa é promessa. Mas sempre existe por aí uma religiosa torcedora fiel capaz de ter feito a promessa de transar com alguém com a mesma camisa do Bahia. Na Bahia tudo pode acontecer.

Torcer pelo Vitória é adquirir o direito de gozar da cara do torcedor do Bahia. Da outra metade da população, portanto. O Vitória não tem nem um título nacional tão importante, mas tem vários estaduais, que é o que vale. Mas tem também o maior número de vice-campeonatos estaduais registrados. Fizeram uma pesquisa, garante o torcedor do Bahia, sobre o time no mundo que tem mais vice-campeonatos e o Vitória foi o vice. Epa? Essa piada não era do Náutico do Recife? Mas o baiano se apropria.

Quando eu era criança ouvia um programa de rádio, programa de humor, que dizia que toda figura proeminente do Brasil era baiano, até o Maestro Carioca. “Dos chapadões da Paraíba até os lençóis petrolíferos de Tucano, todo mundo sabe que até o Maestro Carioca era baiano”. Eu nasci em Pernambuco, mas me encontro aprendiz de baiano, no gosto pelo acarajé, no excesso de pimenta, na festa a qualquer momento ou a qualquer pretexto, na brincadeira a qualquer hora ou até fora de hora, na conversa sem necessidade de assunto. Não é a toa que uma amiga minha, baiana, esculpiu a frase: “Conversar é importante, mas conversar besteira é fundamental”. Também não é a toa que o baiano ou a baiana não para de conversar e de brincar conversando. De duas frases que o baiano diz, três são pulha e o resto tem duplo sentido.

Não nasci na Bahia, nem planejei ser baiano, mas me sinto em casa na Bahia. Bahia é minha pátria e gosto muito de ser baiano. Só preciso aprender por quem torcer: Bahia ou Vitória.


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