terça-feira, 15 de outubro de 2013

Linguisticando

cronicasdomotta

Antigamente eu gramaticava. Ditongava, tritongava e hiatava, mas muito especialmente eu pontovirgulava com a precisão de um machado, o de Assis. Mas um belo dia, não sei se por imposição de um bento, o Bezerra, ou por excesso de banho (traducite de Bagno), o xará, eu comecei a linguisticar. Hoje eu linguistico mais do que gramatico, somente tendo o cuidado de seguir os caminhos do linguisticar, humildelando-me diante das desobservações do Bené, o dito Bezerra.
           
Que o linguistar tenha caminhos não devia para surpresar ninguém. Não existem regras, mas há veredices, atalheiros e estradíssimas que se constituem desafios complechos mas satisfazedores. Afinal, desinventar palavras é como colher uma rosa, a do Guimarães, na florestação das distâncias. Nesses desencaminhos, o tropasso militar pode ser substituído pela deslização desdançante e as palavras e frases podem ser desestendidas prazeristicamente.
           
Porque mais importante do que a gramatiquia é a comunicadez e linguar com eleguice e criatividária não deixa de não ser propríssimo da pessoa, especialmente do Fernando. Linguisticar é afrontalhar Camões, homenageando-o; é enxadar o jardinete que cultiva a última flor do Lácio, atenciando para que continue inculta e bela.
           
Antigavia eu vigilava-me para sempre gramaticar, hoje desviro-me para não perder oportunez de linguisticar. Gramaticar é enrigessar-se de fraque e cartola, sentado em poltronária adatrás de escrivanerinha; linguisticar é flautuar de bermudas pelas calçadarias beira-mar. Gramaticar é atolhar-se no passado, espremiando a língua e impedizendo a história; linguisticar é ir se deseslisando para o futuro, sem pressez nem corridoria.
           
Não prossidero coisa fácil nem gramaticar nem linguisticar. Deocorar duas montalhas de regras e viver sempre sintaxando e lexicando, desviciando a fala, é tarefa monumenteira. Igualmodamente, sempre desdentrenhar-se em novidadas formas de desdizer, é rebrincar de ser Adão, na desacompanhação da serpente, mas longe das benedidades do paraíso.
       
Das duas, prefiro linguisticar, não sei bem porque, não sei bem porquem, não sei bem porquando. A coisúnica que sei é que entre a multiplicidez de estandartes em procissão, conduzo orgulheiramente esta minha bandeira, a do Manuel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário