quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Seleção brasileira de turistas e aposentados

Alcir pompone

Para o pessoal da Vila Maravila, quando a seleção ganha não faz mais do que a sua obrigação e quando perde a culpa é mesmo do técnico que já começa a falhar na hora da convocação. Este, com a sua mania incontrolável de chamar jogadores estrangeiros e de escalar jogadores antigos que vivem se arrastando em campo, tem demonstrado muita capacidade para dar nó em gravata, mas nenhuma para acertar e comandar o time.

A suspeita de todo mundo, nas rodas de conversa da vila, é de que outros interesses comandem a lista de convocados e a escalação de jogadores durante as partidas. Para Paranísio, socialista convicto, presidente do sindicato dos ambulantes da Vila Maravila,  o técnico com certeza recebe muito dinheiro por fora, por conta de acordos que interferem na administração da seleção. Com certeza, convoca tantos estrangeiros assim para incentivar o turismo e tantos jogadores antigos talvez por receber dinheiro dos companheiros do sindicato dos aposentados.

Que a nossa seleção entende mais de turismo e de lazer do que de dribles e gols é a opinião de todo o mundo. Por isso, a facilidade com que aceitaram o passeio do Chile e o conformismo com que fizeram fila para os dribles de Salas e Zamorano. Aliás, filas e aposentadoria são praticamente sinônimos na realidade brasileira e todo aposentado tem sido driblado cotidianamente pela jurisprudência nacional.

Para tranquüilizar o pessoal, o Doutor Rildo, médico da vila e ala direita do Maravila F. C., bom de bola e de estetoscópio, garantiu que o departamento médico-geriátrico da CBF estará cuidando o melhor possível de nossos atletas para que na próxima partida o time tenha um desempenho melhor. Pena que não possa garantir a mesma coisa por parte do INSS para os nossos outros aposentados.

Aposentados por aposentados, Paranísio garante que os nossos são melhores do que os da seleção, já que pelo menos os nossos são obrigados a trabalhar para sobreviver porque a pensão sozinha não dá nem para pagar entrada em jogo de portões abertos. Os aposentados de seleção não trabalham, mas curiosamente ganham bastante dinheiro. 

Em vista disso, depois da vergonhosa derrota dos milionários “velhinhos” para o Chile, Paranísio sugere aos companheiros do sindicato dos aposentados que parem de gastar dinheiro subornando treinadores e comecem a lutar por isonomia e equiparação de pensão salarial entre todos os aposentados do país e os aposentados da seleção brasileira de futebol.


(Esse texto se encontra no livro “Vila Maravila: um lugar diferente e cheio de graça”. O livro pode ser adquirido em contato com o autor ou na Livraria Nobel, Av. Maria Quitéria, 2013, Feira de Santana – BA. Da mesma maneira você pode encontrar o segundo volume: “Vila Maravila: gols de esperança no campo da vida”)

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