terça-feira, 29 de outubro de 2013

Gripado

curiososecia

Quando gripo, fico todo gripado, corpo, imaginação e os textos. Fico tossindo frases e espirrando metáforas, encabulado e sem controle.

Quando gripo, preciso de lenços para enxugar a consciência e assoar as linhas. Me espreguiço pelas páginas e por meu mal estar, dor de cabeça intermitente no cabeçalho.

Quando gripo, o tempo gripa e gripa a saudade de você e de poesias. E escrevo tão vagarosamente que as coisas se arrastam entre os períodos e os olhos pesam.

Quando gripo, a fome desaparece, a vida encolhe e os textos se apequenam. Os dedos caminham pelos caminhos de sempre, como se fossem novos ou como se não existissem.

Quando gripo a lua se esconde atrás das nuvens e os textos se escondem atrás da lua. Respiro com dificuldade e transpiro textos molhados, inconclusos e febris.

Quando gripo, a existência gripa e gripam os cajueiros e os textos. Me arrasto pelas categorias gramaticais no desejo de dialetos e nada sei do nada saber.

Quando gripo, Deus gripa e troveja sobre a minha consciência lançando raios. Tropeço no tropeço e os textos descarrilam loucos por desastre.

Quando gripo, gripa a história e as personagens se confundem com os autores. Os enredos adoecem e se embrulham pelos papéis do mundo.

Quando gripo a memória gripa e esqueço até mesmo de esquecer. E então recordo textos tão antigos que eu mesmo desconhecia e fico à espera de delírios.

Quando gripo a minha humanidade gripa e gripa toda a humanidade e todos os textos. E termino frases para recomeçar e concluo textos para nunca concluir.

Quando gripo, fico todo gripado: corpo, imaginação e os textos.


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