segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Tamar, a mulher com nome próprio


 
jayadesign
Gn 38.

Essa história poderia ficar entre parênteses, pois interrompe o fluxo de narrativas sobre José. História de mulher que sempre vive nos parênteses e entrelinhas da vida, mas história de como os parênteses e entrelinhas subvertem a escrita oficial.

Podemos comparar aqui duas mulheres. A primeira, a mulher de Judá, filha de Sua e mãe de Er, Onã e Selá. Mulher sem nome próprio cercada de nomes de homens, seguindo ordenadamente na caravana patriarcal. Mulher desnomeada pelos homens.

A segunda, Tamá, a nora que para adquirir nome próprio troca suas vestes de viúva pelo véu de prostituta. A mulher que somente ganha dignidade quando subverte os costumes, quando desorganiza a ordem das caravanas.

Nos complexos códigos sexuais, Tamar deveria ter sido casada sucessivamente com os três filhos de Judá. Mas, como os dois primeiros morreram, castigo de Javé que não gostou de alguma coisa que fizeram, Judá temeu pela sorte do terceiro,    as mulheres são misteriosas e perigosas, e demorou.

A mulher de Judá, mulher sem nome, morreu e Tamar soube que Judá iria passar perto e armou sua estratégia: tirou sua roupa de viúva, escondeu-se sob um véu e ficou à espreita. Como adquirir direito e dignidade nessa sociedade de homens?

Tamar usa o corpo e o sexo como tática, subvertendo costumes e moral. Atrai Judá pelo caminho do desejo e tem relações sexuais pela promessa de um cabrito, adquirindo selo, cordão e cajado como penhor.

Quando Tamar engravida, Judá sem saber que se tratava da mulher que encontrara no caminho, propõe a fogueira para a “adúltera”, mas Tamar vira o jogo, mostrando selo, cordão e cajado, desmascarando Judá e subvertendo todos os códigos patriarcais. Judá pronuncia sentença contra si: “Ela é mais justa do que eu” (Gn 38,26).

Tamar é a mulher que adquire nome próprio porque invade os códigos dos homens com o próprio corpo e sexualidade e descobre o seu poder. Tamar desarruma a caravana dos homens pelo poder do corpo, poder do sexo e poder do útero. Poder de quem carrega dentro de si os caminhos do desejo e o mistério da vida.

2 comentários:

  1. A história desta mulher é muito interessante cheia de paixão, a bela Tamar se envolveu com os três filhos e o patriarca Judá. Inspirou uma história de ficção do escritor gaúcho, de origem judaica, Moacyr Scliar, se puder leia, chama-se Manual da Paixão Solitária.

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    1. Tucha, que bom saber... gosto de Scliar, vamos ver como poderei ter acesso a esse livro... um abraço.

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