quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O novo técnico da seleção

Cimplesocio-futebol

Na ligeira pesquisa efetuada na Vila Maravila sobre quem deveria ser o novo técnico da seleção brasileira de futebol, Luiz Felipe Scolari ocupou um honroso segundo lugar com a considerada excelente percentagem de cinco por cento. Nenhum outro dos chamados grandes técnicos receberam qualquer menção; nem mesmo o Parreira que o pessoal da Vila não perdoa por ter ganho a Copa de 94 vencendo a hospitalizada seleção da Itália por zero a zero. O campeão absoluto foi naturalmente o técnico Poeira, treinador do Maravila F. C., pentacampeão da liga de futebol de subúrbio da cidade.

Procurando descobrir a razão de tanto sucesso, encontrei coisas surpreendentes.  Primeiro que o glorioso Maravila F. C. amargava um longo e desacreditado período de fracassos, antes de o Poeira assumir a equipe, e que o mesmo antes nunca havia sido técnico e que ficara cotado para o cargo por ser o melhor jogador de dominó que a Vila já conhecera. Portanto, a ausência de requisitos seria, para os moradores da Vila, o seu maior requisito para o exercício da profissão.

Mas como o matreiro jogador de dominó conseguira restaurar a credibilidade do ex-glorioso time? Ele garante que foi através de muito estudo, muita pesquisa e principalmente de muita psicologia. Mais do que táticas e regras, estudou a vida de grandes jogadores e grandes times do passado e do presente, prestando atenção aos pequenos detalhes de onde, segundo afirma, vêm as grandes soluções.

Descobrindo que os maiores jogadores não gostavam de treinar, aboliu os treinos físicos, táticos e técnicos e multiplicou as peladas criativas e os campeonatos de diversas coisas.  Toda noite, há multiplicidade de peladas abertas na Vila, onde os jogadores do time disputam com outros candidatos a jogadores, criativas variações. São peladas de futevôlei, futetênis, basquetefute e até de futeágua que, diferente do pólo aquático, se joga com os pés e haja fôlego e malabarismo para se conseguir nadar e chutar ao mesmo tempo. Há campeonatos de embaixada, cabeçada, cruzamento, falta, pênalti, gol olímpico, sem-pulo, bicicleta. Há divertidas peladas só de calcanhar (que ele instituiu em homenagem a Sócrates), outras só de efeito (homenagem ao lendário Biu do Efeito) e os interessantes campeonatos de futebol morro acima e morro abaixo, em um declive, que é para melhorar o condicionamento físico.

Como todo mundo pode participar das peladas e dos campeonatos, estão sempre surgindo novos jogadores que ele vai escalando na medida da necessidade. Para descobrir a posição do jogador, ele aplica os testes psicológicos de sua autoria, cujos princípios básicos compartilha: goleiro tem de ser alto e calmo, zagueiro tem de ser sisudo, meio de campo tem de ser equilibrado e atacante tem de ser falastrão, polêmico, problemático e tem de gostar de aparecer. Ele desconversa, mas o pessoal garante que ele já telefonou duas vezes para Romário, convidando-o para compor o ataque do Maravila F.  C.

(Esse texto se encontra no livro “Vila Maravila: um lugar diferente e cheio de graça”. O livro pode ser adquirido em contato com o autor ou na Livraria Nobel, Av. Maria Quitéria, 2013, Feira de Santana – BA. Da mesma maneira você pode encontrar o segundo volume: “Vila Maravila: gols de esperança no campo da vida”)

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