quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Como a queda de um manequim

ifyouwantodo

Tropeçar, cair e não ter certeza do sorriso das companheiras, se pudessem sorrir. Sentimentos de silicone ainda são sentimentos de silicone e queda indolor não dói, em alma sólida.
           
Não poder se despedaçar nem torcer tornozelo, virtude de queda, ser levantada impotente em face impávida, incapaz de expressar no rosto o não furor de nunca se irar, o desdesconsolo de não saber doer.
           
Cair na direção da queda sem desvios, ângulos retos inúteis e invariáveis, inúteis e invariáveis curvas, sexo feminino sem genitálias.
           
Ser suporte de roupas, sem direito a escolhas, sem escolha da escolha e sem direito ao direito. Forçosamente bela e sem imagem especular.
           
Tropeçar, cair e não ter certeza dos sentimentos que teria, se pudesse sentir. Haveria um enorme vazio no peito de manequim, espaço para mais sensações do que as impossíveis.
           
Sem cérebro para atrapalhar, os pensamentos poderiam chegar mais rápidos e volumosos e engendrar fantasias de látex.
           
Devolvida ao mesmo lugar sem recriminações por mãos e silêncios gentis. Gesto em gesso sem nada perguntar. Não teria frio se pudesse nem pensaria alto ou baixo.
           
Voltar a ter o espaço do não olhar e o plástico auricular do não ouvir e o não fremir da pele empedernida.
           
Se viesse a noite não viria o sono e a não luz do sol não congelaria os dessonhos.
           
Colecionar olhares sem saber olhar, ser reflexo sem não poder refletir. Teria sido Narciso belo? Não saberia perguntar se aprendesse.

Um comentário:

  1. Bem, 1.74 na extensão, 38 nos pés e magreza no corpo...Será? Seria? Complicado, nunca saberia andar em cima de um 'Louboutin, mesmo com 'paradinhas'. Tropeços grandes e quedas virtuosas e variadas, definitivamente, impossível!

    Bom ser inquietada! Bjo, Marcos.

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