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Manuel Maria Trindade de Jesus
tomou como sua responsabilidade resolver o problema legislativo do seu país e
do mundo e encontrar a solução para a tão famosa abundância de leis e escassez
de aplicabilidade que, desde Tomas Morus, os teóricos discutem.
Reduzir o número de leis e fazer
com que fossem aplicadas seria o caminho óbvio. A questão seria encontrar essas
leis e essas penas cabíveis e aplicou-se à tarefa com cuidado e persistência.
Precisava de leis de consenso
universal, tão evidentes em si mesmas que não comportassem prolongados
julgamentos e confusos recolhimentos de provas materiais e testemunhais. E
chegou à conclusão de que consenso não se encontra facilmente em nenhum lugar.
Homicídio, roubo e mentira, por
exemplo, não encontravam consenso de serem crimes em si mesmos. Dependiam de
circunstância, tempo e lugar, e as penas merecidas eram tão diversificadas que
a questão da justiça se arrastava inevitavelmente.
Precisava de leis que merecessem
a execração geral, que quase dispensassem julgamento, e de que a aplicação da
pena máxima, por exemplo, fosse um alívio geral. De dificuldade em dificuldade,
elaborou a teoria de que uma única lei, de consenso universal e que merecesse
para todos pena capital, seria suficiente para aperfeiçoar o sistema judiciário
e garantir a sociabilidade da humanidade.
Então aplicou-se cuidadoso,
meticuloso e determinado, à procura desse crime hediondo. Foi um momento de
iluminação quando descobriu a chatice como essa transgressão máxima da
convivência em sociedades e o chato como esse desagregador incurável e,
portanto, merecedor de morte.
A tarefa agora seria convencer os
setores responsáveis. A pena máxima seria a pena capital aplicada literalmente.
Cortar a cabeça de quem tem como vivência cotidiana fazer os outros perderem a
cabeça era de tal simplicidade que coroaria o processo de aperfeiçoamento de
todo o sistema.
Foi um longo caminho de
conversações, entrevistas, seminários, discursos e mais discursos, elaboração
de textos com suficientes notas de rodapé, até conseguir finalmente o seu
intento.
A lei foi promulgada e Manuel
Maria Trindade de Jesus foi julgado, condenado e decapitado.
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