sexta-feira, 23 de agosto de 2013

ENTRE O ZERO E O NADA

mjdelfino


Marcos Monteiro* 

A eleição de 2014 já prenuncia uma polaridade, pelo menos para um segundo turno, entre o principal partido da base governista e o principal partido da oposição. Provavelmente, petistas e tucanos se encontrem no segundo turno, o que nos assegura uma polaridade sem polarização, disputa entre um candidato de direita e um mais à direita. No programa atual de cunho desenvolvimentista os candidatos, podem prometer o que quiserem, mas o que esperamos é que acrescentem zero ou nada aos caminhos atuais já traçados.

Candidato ou candidata petista poderão se incomodar por serem classificados à direita e divulgarem um currículo de lutas e pronunciamentos progressistas. Infelizmente esse currículo está desatualizado, de quando o partido era jovem, coisas de juventude. Os jovens, que não viram tais momentos, e os analistas mais éticos não têm medo de admitir que o partido tornou-se cada vez mais conservador e abandonou lutas históricas, sendo a principal a luta contra o sistema capitalista.

As eleições, portanto, podem até ser conflitivas, mas não serão polarizadas, os candidatos empenhados de modos diferentes em apaziguar qualquer receio dos setores mais imobilistas da sociedade. Uma terceira via, se acontecer, também seguirá a mesma receita, mesma lógica e mesmo comedimento. Assim, a disputa eleitoral pode terminar como uma espécie de luta pelo oscar (ou oscarito) de melhor maquiador.

Disfarçar rugas e olheiras de um sistema cada vez mais encarquilhado é a tarefa cotidiana de políticos e de comunicadores, estando as disputas políticas enclausuradas dentro do mesmo imaginário, com futuros previsíveis. O novo, o inédito é olhado com desconfiança e afastado como utopia. A palavra “socialismo”, por exemplo, saiu da moda e qualquer dia não se encontra mais no dicionário.

Faz mais de vinte anos que Lula e Collor protagonizaram uma disputa tão polarizada que assustou a elite conservadora do país, ao ponto dos meios de comunicação, escandalosamente, difamarem e prejudicarem o “sapo vermelho”. Lula se elegeu, depois de muita insistência e de se tornar cada vez mais cor-de-rosa. O governo dele beneficiou todas as classes e setores econômicos e alcançou uma inédita popularidade.

O preço a pagar foi a despolarização. Amenizando a crise acentuou a crise e o sistema capitalista garante sua presença no Brasil e no mundo por mais algumas décadas, pelo menos. Os movimentos organizados ficaram meio atônitos e as reformas sociais radicais não aconteceram. Mas novamente aconteceram os jovens, porque os jovens sempre acontecem. Não podendo ser saudosistas, nem ter vínculos românticos com o passado, ainda acreditam em utopias e nas lutas contra a voracidade do sistema capitalista. Muitos deles têm a impressão que nas próximas eleições serão obrigados a escolher entre seis e meia dúzia, ou dizendo novamente, entre o zero e o nada.

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA e do grupo de pastores da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE. Também faz parte da diretoria da Aliança de Batistas do Brasil e é membro da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil.
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055.

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