terça-feira, 20 de agosto de 2013

Texto que te quero dedos

professoralourdesduarte 

Escrever é esparramar-se linguagem pelas extremidades do corpo, pensar com os dedos. Cravar unhas no pescoço, assustando o leitor e então fazer-lhe cócegas.

Dedos tamborilam sobre a mesa e batucam consciências, dedos passeiam por acordes e trazem música ao corpo. O escritor dedilha instrumentos desconhecidos, misteriosos e dengosos.

Um texto é aperto afetado de mãos, desses que tocam apenas pontas de dedos, ou férreo aperto, em que os dedos são torniquetes que capturam corpo e alma. Porque leitor tem coceira nos dedos e quando chega ao texto lambe os dedos com a cara de petiz escondido debaixo da mesa.
    
Os textos tocam campanhinhas e saem correndo e se esticam apontando outro culpado. Textos são indicadores de uma longa lista de suspeitos, ou são polegares que garantem firmeza na pegada. Textos são suporte de pedras preciosas e lugar de alianças douradas.

O dedo médio pode ser invasivo e os textos podem colocar o dedo na ferida ou então acariciar genitais e genitálias. Orgasmos são acontecimentos inesperados, responsabilidade de escritor e de leitor.

Esfregamos os textos quando contentes ou ansiosos e estalamos os textos a cada momento que voltamos a ser crianças. Os textos se reúnem para brincar de mamulengo e formam as mãos que projetam sombra de animais nas paredes.

Jesus lavou com textos os pés dos discípulos e impôs textos sobre cabeças para curar os corpos. Por via das dúvidas, convém lavar os textos antes da digestão ou transgredir as normas sem lavá-los. Pois, no evangelho, o texto manuseia a lei cuidadosamente ou então a rasga.

Texto mindinho, seu vizinho, maior de todos, fura-bolo, cata-piolhos. Talvez fosse bom usar luvas para ler os textos, mas é bom lembrar que Lula perdeu um texto para ser presidente do Brasil e que o menino holandês tapou o buraco do dique com um texto até o socorro chegar.

O dedo de Deus escreve textos de pedra e todos nos tornamos pedras e textos e dedos.

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