professoralourdesduarte |
Escrever é esparramar-se
linguagem pelas extremidades do corpo, pensar com os dedos. Cravar unhas no
pescoço, assustando o leitor e então fazer-lhe cócegas.
Dedos tamborilam sobre a mesa e
batucam consciências, dedos passeiam por acordes e trazem música ao corpo. O
escritor dedilha instrumentos desconhecidos, misteriosos e dengosos.
Um texto é aperto afetado de mãos,
desses que tocam apenas pontas de dedos, ou férreo aperto, em que os dedos são
torniquetes que capturam corpo e alma. Porque leitor tem coceira nos dedos e
quando chega ao texto lambe os dedos com a cara de petiz escondido debaixo da
mesa.
Os textos tocam campanhinhas e
saem correndo e se esticam apontando outro culpado. Textos são indicadores de
uma longa lista de suspeitos, ou são polegares que garantem firmeza na pegada.
Textos são suporte de pedras preciosas e lugar de alianças douradas.
O dedo médio pode ser invasivo e
os textos podem colocar o dedo na ferida ou então acariciar genitais e genitálias.
Orgasmos são acontecimentos inesperados, responsabilidade de escritor e de
leitor.
Esfregamos os textos quando
contentes ou ansiosos e estalamos os textos a cada momento que voltamos a ser
crianças. Os textos se reúnem para brincar de mamulengo e formam as mãos que
projetam sombra de animais nas paredes.
Jesus lavou com textos os pés dos
discípulos e impôs textos sobre cabeças para curar os corpos. Por via das
dúvidas, convém lavar os textos antes da digestão ou transgredir as normas sem
lavá-los. Pois, no evangelho, o texto manuseia a lei cuidadosamente ou então a
rasga.
Texto mindinho, seu vizinho,
maior de todos, fura-bolo, cata-piolhos. Talvez fosse bom usar luvas para ler
os textos, mas é bom lembrar que Lula perdeu um texto para ser presidente do
Brasil e que o menino holandês tapou o buraco do dique com um texto até o
socorro chegar.
O dedo de Deus escreve textos de pedra e todos nos tornamos pedras e textos e dedos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário