sexta-feira, 30 de agosto de 2013

LIBERDADE, SINOS E BOMBAS

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Marcos Monteiro*

O presidente Barack Obama tinha duas coisas importantes na sua agenda de quarta-feira, 28 de agosto de 2013: um discurso para comemorar cinquenta anos do famoso pronunciamento de Martin Luther King Jr, I have a dream (Eu tenho um sonho) e o acompanhamento dos planos de invasão da Síria. Terminou o seu discurso com o soar cronometrado de sinos e a frase: “Que soe a liberdade!”. Fazer soar sinos é acontecimento de festividade ou de funeral e os sinos que dobram fazem qualquer discurso caminhar pela ambiguidade.

Quando se tornou o primeiro presidente negro da Casa Branca, Obama tornou-se símbolo do sonho que comemora, vitória de lutas da humanidade por mais humanidade. Mas a Casa Branca continua branca e o profeta negro Martin Luther King não tinha apenas o sonho de que brancos e negros americanos se dessem as mãos nas colinas da Geórgia. Mais do que isso, acreditava que a revolução do amor deveria ocupar a agenda da humanidade.

Em cinco conferências para uma rádio canadense, em 1967, pouco tempo antes de ser assassinado, fez duras críticas à política norte-americana e ocidental, inclusive à guerra no Vietnâ e às bombas jogadas contra a população.

“Nós, no Ocidente, devemos ter em mente que os países pobres são pobres principalmente porque nós os exploramos através de um colonialismo econômico ou político”. KING JR, Martin Luther. O grito da consciência. São Paulo: Expressão e Cultura,  1968, p. 102).

Profetas sempre são muito lembrados, mas depois de terem sido assassinados. Silenciados, postam-se a serviço daquilo que combatiam e tornam-se instrumento da injustiça que denunciavam. A grande diferença entre um profeta negro e um presidente negro passa pela existência de uma casa branca, cada vez mais manchada do vermelho do sangue de suas vítimas.

O cenário mundial e a história dos últimos anos não deixam dúvida: A invasão da Síria pelos Estados Unidos está com os dias contados e será feita com ou sem apoio de aliados, com ou sem autorização da ONU. E os sinos da liberdade celebrados nos Estados Unidos se transformarão em ruídos de explosões na Síria. Gritos de alegria ou gritos de dor acompanharão cada tipo de sonoridade.

Martin Luther King Jr defendia que não se podia produzir justiça através de métodos injustos, nem produzir paz com bombas. A insistência pela não-violência seria insistência pela verdade que os discursos costumam escantear. As marchas que lutavam pelos direitos civis tinham um discurso claro contra a discriminação legalizada da época. O discurso de Obama é tão ambivalente quanto qualquer discurso feito a partir do poder. E a cena pode beirar o grotesco.

No mesmo local do pronunciamento do profeta negro, um representante do Império que o assassinou comemora liberdades enquanto planeja invasões.

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA e do grupo de pastores da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE. Também faz parte da diretoria da Aliança de Batistas do Brasil e é membro da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil.
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
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Um comentário:

  1. Puxa vida camarada, que conclusão. Gostei...

    "No mesmo local do pronunciamento do profeta negro, um representante do Império que o assassinou comemora liberdades enquanto planeja invasões."

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