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Marcos Monteiro*
O presidente Barack Obama tinha
duas coisas importantes na sua agenda de quarta-feira, 28 de agosto de 2013: um
discurso para comemorar cinquenta anos do famoso pronunciamento de Martin
Luther King Jr, I have a dream (Eu
tenho um sonho) e o acompanhamento dos planos de invasão da Síria. Terminou o
seu discurso com o soar cronometrado de sinos e a frase: “Que soe a liberdade!”.
Fazer soar sinos é acontecimento de festividade ou de funeral e os sinos que
dobram fazem qualquer discurso caminhar pela ambiguidade.
Quando se tornou o primeiro
presidente negro da Casa Branca, Obama tornou-se símbolo do sonho que comemora,
vitória de lutas da humanidade por mais humanidade. Mas a Casa Branca continua
branca e o profeta negro Martin Luther King não tinha apenas o sonho de que
brancos e negros americanos se dessem as mãos nas colinas da Geórgia. Mais do
que isso, acreditava que a revolução do amor deveria ocupar a agenda da
humanidade.
Em cinco conferências para uma
rádio canadense, em 1967, pouco tempo antes de ser assassinado, fez duras
críticas à política norte-americana e ocidental, inclusive à guerra no Vietnâ e
às bombas jogadas contra a população.
“Nós, no Ocidente, devemos ter em mente que os países pobres são pobres
principalmente porque nós os exploramos através de um colonialismo econômico ou
político”. KING JR, Martin Luther. O
grito da consciência. São Paulo: Expressão e Cultura, 1968, p. 102).
Profetas sempre são muito
lembrados, mas depois de terem sido assassinados. Silenciados, postam-se a
serviço daquilo que combatiam e tornam-se instrumento da injustiça que
denunciavam. A grande diferença entre um profeta negro e um presidente negro
passa pela existência de uma casa branca, cada vez mais manchada do vermelho do
sangue de suas vítimas.
O cenário mundial e a história
dos últimos anos não deixam dúvida: A invasão da Síria pelos Estados Unidos está
com os dias contados e será feita com ou sem apoio de aliados, com ou sem
autorização da ONU. E os sinos da liberdade celebrados nos Estados Unidos se
transformarão em ruídos de explosões na Síria. Gritos de alegria ou gritos de
dor acompanharão cada tipo de sonoridade.
Martin Luther King Jr defendia
que não se podia produzir justiça através de métodos injustos, nem produzir paz
com bombas. A insistência pela não-violência seria insistência pela verdade que
os discursos costumam escantear. As marchas que lutavam pelos direitos civis
tinham um discurso claro contra a discriminação legalizada da época. O discurso
de Obama é tão ambivalente quanto qualquer discurso feito a partir do poder. E
a cena pode beirar o grotesco.
No mesmo local do pronunciamento
do profeta negro, um representante do Império que o assassinou comemora
liberdades enquanto planeja invasões.
*Marcos Monteiro é assessor de
pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da
Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA e do grupo de pastores da Primeira
Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE. Também faz parte da diretoria da Aliança
de Batistas do Brasil e é membro da Fraternidade Teológica Latino-Americana do
Brasil.
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055.
Puxa vida camarada, que conclusão. Gostei...
ResponderExcluir"No mesmo local do pronunciamento do profeta negro, um representante do Império que o assassinou comemora liberdades enquanto planeja invasões."