quarta-feira, 14 de agosto de 2013

De chuvas a tempestades

Foto: Jay Directo/AFP


Primeiro uma agradável chuva fina e refrescante e por último uma imensa tempestade. O povo da Vila Maravila passou duas noites em claro, pensando em familiares que moram em situação de risco e os telefones públicos que funcionam ficaram congestionados.

Corri para a Vila lembrando do romance “A Peste” de Albert Camus, quando a catástrofe chega repentina e reveladora, em forma de uma epidemia mortal, e expõe todas as contradições de uma pequena cidadezinha.  Até mesmo uma teologia da retribuição, onde um Deus vingador castiga os maus e protege os bons, revela-se inadequada à medida que a peste vai se alastrando e o bem intencionado padre local é obrigado a rever a sua doutrina e mudar o seu sermão.

Quando consegui chegar encontrei o povo ansioso mas tranqüilo. Os muros de arrimo, as plantações apropriadas, as medidas tomadas preventivamente nas áreas de maior risco parece que haviam surtido efeito.  Não pude deixar de admirar a coragem e a coerência de Paranísio,  o folclórico Paranísio,  que mobiliza e lidera continuamente o povo da Vila em atividades comunitárias necessárias.

Imediatamente pensei na parábola de Jesus, conclusão do chamado “Sermão do Monte”, onde as chuvas e os rios derrubam a construção sem alicerces mas não derrubam a construção bem fundamentada, e refleti que as tempestades, como todas as catástrofes,  têm um lado revelador. 

Diante do desastre súbito, as desigualdades sociais, as omissões pessoais e administrativas, as prioridades de uma política excludente, os egoísmos, as ambições e as fraquezas ficam evidentes. Por outro lado, a capacidade de mobilização, as soluções criativas, a coragem e a solidariedade humana e equalizadora, tornam-se também visíveis, demonstrando que o que é assim não precisa ser assim.

Talvez seja necessário que a chuva respingue sobre a nossa consciência e umedeça a nossa compaixão. Ou mesmo que essa tempestade arranque as nossas máscaras e destrua todas as nossas estruturas pessoais, culturais e político-sociais malignas e inadequadas, para que o que tenha valor e fundamento permaneça e ocupe os lugares vazios varridos e lavados pela catástrofe.

(Esse texto se encontra no livro “Vila Maravila: um lugar diferente e cheio de graça”. O livro pode ser adquirido em contato com o autor ou na Livraria Nobel, Av. Getúlio Vargas, 2410, Feira de Santana – BA. Da mesma maneira você pode encontrar o segundo volume: “Vila Maravila: gols de esperança no campo da vida”)

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