Foto: Jay Directo/AFP |
Primeiro uma
agradável chuva fina e refrescante e por último uma imensa tempestade. O povo
da Vila Maravila passou duas noites em claro, pensando em familiares que moram
em situação de risco e os telefones públicos que funcionam ficaram
congestionados.
Corri para a
Vila lembrando do romance “A Peste” de Albert Camus, quando a catástrofe chega
repentina e reveladora, em forma de uma epidemia mortal, e expõe todas as
contradições de uma pequena cidadezinha.
Até mesmo uma teologia da retribuição, onde um Deus vingador castiga os
maus e protege os bons, revela-se inadequada à medida que a peste vai se
alastrando e o bem intencionado padre local é obrigado a rever a sua doutrina e
mudar o seu sermão.
Quando consegui
chegar encontrei o povo ansioso mas tranqüilo. Os muros de arrimo, as
plantações apropriadas, as medidas tomadas preventivamente nas áreas de maior
risco parece que haviam surtido efeito.
Não pude deixar de admirar a coragem e a coerência de Paranísio, o folclórico Paranísio, que mobiliza e lidera continuamente o povo da
Vila em atividades comunitárias necessárias.
Imediatamente
pensei na parábola de Jesus, conclusão do chamado “Sermão do Monte”, onde as
chuvas e os rios derrubam a construção sem alicerces mas não derrubam a
construção bem fundamentada, e refleti que as tempestades, como todas as
catástrofes, têm um lado revelador.
Diante do
desastre súbito, as desigualdades sociais, as omissões pessoais e
administrativas, as prioridades de uma política excludente, os egoísmos, as
ambições e as fraquezas ficam evidentes. Por outro lado, a capacidade de
mobilização, as soluções criativas, a coragem e a solidariedade humana e
equalizadora, tornam-se também visíveis, demonstrando que o que é assim não precisa
ser assim.
Talvez seja
necessário que a chuva respingue sobre a nossa consciência e umedeça a nossa
compaixão. Ou mesmo que essa tempestade arranque as nossas máscaras e destrua
todas as nossas estruturas pessoais, culturais e político-sociais malignas e
inadequadas, para que o que tenha valor e fundamento permaneça e ocupe os
lugares vazios varridos e lavados pela catástrofe.
(Esse texto se encontra no livro “Vila
Maravila: um lugar diferente e cheio de graça”. O livro pode ser adquirido em
contato com o autor ou na Livraria Nobel, Av. Getúlio Vargas, 2410, Feira de
Santana – BA. Da mesma maneira você pode encontrar o segundo volume: “Vila
Maravila: gols de esperança no campo da vida”)
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