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Quando o Grande Felino criou o
gato à sua imagem e semelhança, disse: – “Crescei e multiplicai e povoai a
terra. E para não ter dúvida alguma já criou sete gatas no cio e proibiu
imediatamente o tabu sexual, liberando o incesto e o amor livre, criando junto
com os gatos a revolução sexual.
Porque
se há alguma coisa em que gatos e gatas são realmente bons, é exatamente em sua
vida sexual. As gatas gostam dessa história de povoar a terra, o que fazem de
quatro em quatro meses, se deixar, e os gatos costumam contribuir com sôfrega
dedicação nessa árdua missão, porque a terra é bem grande e, apesar da ordem
explícita do Grande Felino, está povoada mesmo é de baratas.
A
superpopulação de baratas (e de ratos) é problema apenas dos seres humanos,
sendo a própria superpopulação dos humanos conveniente aos gatos. Os gatos,
animais superiores, precisam sempre de seres inferiores, com os quais possam
contar, e os humanos aprenderam a servir os gatos com grande e surpreendente
dedicação.
Os
humanos vigiam diariamente todos ambientes dos gatos, não permitindo que
animais de maior porte ou daninhos se aproximem, limpando e zelando os locais
onde vão dormir e comer. Os humanos pesquisam sobre rações saudáveis e
providenciam assistência médica para os gatos em caso de necessidade. Os
humanos têm aprendido a ser eficientes em seus cuidados, cumprindo pontualmente
com os seus deveres, sem necessidade de castigos ou ameaças. Os seres humanos
são os melhores escravos dos gatos.
Portanto,
os gatos entenderam a ordem de povoar a terra do Grande Felino, de forma
inteligente, como convém à essa espécie superior, como povoamento ecológico.
Para haver gatos, é necessário que haja ratos e baratas, provisão alimentar, e
seres humanos, mão de obra escrava para tarefas indispensáveis.
Livres
dessas tarefas elementares, os gatos e gatas, têm tempo disponível para a arte
e o requinte do amor. Os jogos de conquista, os requebros, os negaceios, os
cânticos exóticos e intermináveis, as carícias ousadas e variadas, vão se
sucedendo nos momentos do cio, sutilezas femininas, estratégias masculinas,
eterno ir-e-vir, escolher-e-ser-escolhido, conquistar-e-ser-conquistado, jogo
que incomoda e que encanta, busca interminável dos limites do amor, por todos os
excitantes lugares, árvores, telhados, relva, terra, flores, do planeta.
E
assim a terra vai se povoando, para deleite do Grande Felino. E por entre as
flores, as árvores, as águas, vão surgindo sempre mais ratos, mas baratas, mais
seres humanos, e logicamente mais gatos. Esses seres superiores, peritos na
arte de amar, que é, finalmente, aquilo que verdadeiramente importa.
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