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Devido aos
últimos acontecimentos, derrotas e polícia atrás do técnico da canarinha, o
pessoal da Vila Maravila anda um tanto desanimado e como seleção
brasileira, pátria, governo e política são a mesma coisa, cresce na Vila o movimento pelo “impeachment”
do presidente da república e espera-se para as próximas eleições vitória
esmagadora, nas urnas locais, de todo e qualquer candidato de oposição.
Nesse momento,
nas rodas de conversa, a tendência é olhar-se para o passado e ficar-se falando
emocionado da seleção de setenta, sessenta e dois e cinqüenta e oito e do
governo de João Goulart, Kubitschek e até de Getúlio Vargas. Fala todo mundo,
porque os mais velhos viram e os mais novos quase viram de tanto ouvir falar. Então, o Seu Madeira, o perito na história do
futebol da Vila, com voz grave e pausada e com a invariável tossezinha
inicial, começa dizendo, a pretexto nenhum, que ninguém bota efeito na bola como Biu do
Efeito, falecido jogador lá da
Vila, e a contar, perante uma platéia eletrizada, a história da máxima façanha do legendário
jogador.
Quando o Sport
Clube do Recife foi jogar no campo do Maravila F. C, e o Sport já era um grande
time, quem realmente sobrou em campo foi Biu do Efeito. Bola de calcanhar de
efeito, banho de cuia de efeito, deu um drible da vaca de efeito em Tonhão sem
sair do canto que Tonhão ficou tão tonto que teve que ser substituído e
recolhido ao hospital com suspeita de aneurisma. Mas o jogo, bola para lá, bola
para cá, e o placar em branco até quarenta minutos do segundo tempo. O Sport
realmente era time bom.
Foi quando
aconteceu o pênalti em Rubenírio (passe de efeito de Biu do Efeito) e o Biu do
Efeito, claro, foi cobrar. Caminhou
impávido até a bola, alojou a redonda na marca de cal e sem dar distância deu,
com toda pose e empáfia, escarnecendo do goleiro adversário, coisa que não se faz, um chute despretensioso
na bola que saiu uma “cafofa”, lenta, lentamente na direção da baliza. O
goleiro, surpreso e agradecido, segurou firmemente a pelota e olhou atônito
para a torcida que comemorava na geral e na improvisada arquibancada a cobrança
do Biu do Efeito.
O goleiro, com o balão bem firmado entre as duas mãos, deu
dois passos e quicou a pelota para o chute para frente. E aí aconteceu. No
quique, a bola se desviou e rapidamente foi se aninhar dentro do gol há tempos
já comemorado pela torcida. O juiz apitou, apontou para o centro do gramado, e
daqui a pouco encerrou a partida que já devia de ter sido encerrada desde o gol
do Biu porque depois de um gol daqueles era até imoralidade continuar jogando.
O pessoal ouve
a história em indefinido e inacabável silêncio até o momento em que Paranísio diz:
- Grande cidadão esse Biu do Efeito. Devia de ter sido era ministro: de
preferência, da reforma agrária.
(Esse texto se encontra no livro “Vila
Maravila: um lugar diferente e cheio de graça”. O livro pode ser adquirido em
contato com o autor ou na Livraria Nobel, Av. Getúlio Vargas, 2410, Feira de
Santana – BA. Da mesma maneira você pode encontrar o segundo volume: “Vila
Maravila: gols de esperança no campo da vida”)
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