cybersociedade |
*Marcos Monteiro
As profecias recorrentes sobre o
fim do mundo têm sempre razão quando pensamos sobre finitude e totalidade. A
vida, a sociedade humana, o planeta e até o cosmos terão um fim, nos garantem
as evidências científicas. A vida é trágica, nos lembra Edgar Morin, a morte
nos espera tanto no âmbito individual quanto no coletivo. Existir no tempo é
ser-para-a-morte nos garante a filosofia, quando coloca em análise a
existência.
Essa certeza futura pode ser
colocada a serviço de nossas incertezas presentes mais próximas, oferecendo-nos
a responsabilidade de dar sentido e densidade a cada um de nossos atos e a cada
uma de nossas realizações. A vida passa a ser um convite à intensidade e à
paixão, a viver plenamente tudo que vale a pena, transformando cada instante em
mergulho na eternidade.
Por esse prisma, uma ética do
provisório, se afigura como caminho inevitável para se viver melhor e as nossas
instituições também finitas e provisórias precisam ser constantemente tensionadas
para que cumpram a finalidade de dar sentido a uma vida que já nasce com a
morte escrita em seu destinamento. A partir disso, precisamos pensar a nossa
democracia atual.
O modelo de democracia
representativa chega a esse momento histórico como hegemônico, diante do
conjunto de experiências efetuadas ao longo da história. Nascida junto com a
revolução liberal, saber se ela pode ser mantida dentro de outros modelos
econômicos totais, um modelo socialista, por exemplo, é uma questão que não se
tornou clara ainda.
Entretanto, o fortalecimento de
nossas instituições democráticas não consegue esconder as suas fragilidades e
contradições. Além da lentidão dos processos de institucionalização, a luta por
interesses sempre prevalece e as regras do jogo são observadas em favor dos
grupos que a jogam, especialmente grupos oligárquicos. O resultado é a
constante turbulência em qualquer cenário político que se observe.
Essa democracia que vivemos é
confortável para o poder e desconfortável para o direito. A exclusão política e
social é subproduto natural desse modo de representação, estando os mecanismos
de controle tão abaixo de suas possibilidades que o poder pode ser exercido com
escassa vigilância. O interesse dos grupos representados na arena democrática contrasta
com o desinteresse da população pelo próprio jogo e essa despolitização não é
casual, mas proposta e aplicada pelos jogadores no poder.
Desse modo, ser político, não tem
mais a ver com o “ser político”, com a nossa vocação humana básica e constitucional.
Na desconfortável situação de desemprego estrutural, cada vez mais presente em
todas as sociedades, a política tornou-se um excelente emprego, uma
oportunidade de jogar um jogo de cartas marcadas e assegurar um futuro mais
confortável, diante da tragédia da vida e da sociedade.
*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa
do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de
Jesus em Feira de Santana, BA e do grupo de pastores da Primeira Igreja Batista
em Bultrins, Olinda, PE. Também faz parte da diretoria da Aliança de Batistas
do Brasil e é membro da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil.
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055.
Quanto à patrimonialização da "coisa pública" acho que o pensamento de Sérgio Buarque de Holanda continua vivo no que diz respeito ao fato de que a elite política no Brasil não conseguiu incorporar à prática política a noção de impessoalidade. Ao assumir o poder privatiza-o em benefício próprio e limita substancialmente, quando não exclui, os meios de intervenção popular. Por isso precisamos continuar na luta. Um abraço.
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