gestaleirosdabahia |
Escrevo para pôr um texto de
algum lugar em algum lugar e escrevo porque sou texto. As palavras escorrem dos
poros enquanto caminho e as frases me encontram em lugares diferentes e mesmo
dormindo.
Pertenço ao mundo dos textos e
tenho o vício de escrever. O mundo dos textos precedem e procedem a existência
e os vícios são viciados. Escrever é vício e escrever sobre escrever é
confissão.
Gostaria de escrever poesia, mas
não sou devasso o suficiente. Por isso os poemas não se apaixonam por mim.
Então transo com qualquer texto, comezinho, desses que se encontram a granel em
prateleiras de bodega. Mas sou apaixonado por esses textos vulgares que me
possuindo deixam-se possuir; essa ilusão mútua de posse.
Construir poesias é escrever
entrelinhas. Escrevo sempre linhas, tão igualmente paralelas, na esperança de
que as entrelinhas se mostrem despudoradas em cada leitura.
Textos são sempre inconclusões e
sou sempre texto inconcluso, caminho, vereda, senda, sendo. Escrevo textos para
nunca me repetir, me repetindo. Para me ler de novo e novamente não me
entender. Escrevo pela saudade de me incompreender.
Não sonho com textos perfeitos,
busco a cada dia a imperfeição, a insignificância e a invalidez. Gostaria de
escrever um texto tanto faz, que pudesse ser não lido pela maioria da
humanidade.
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