terça-feira, 9 de julho de 2013

Textualizando

gestaleirosdabahia 

Escrevo para pôr um texto de algum lugar em algum lugar e escrevo porque sou texto. As palavras escorrem dos poros enquanto caminho e as frases me encontram em lugares diferentes e mesmo dormindo.

Pertenço ao mundo dos textos e tenho o vício de escrever. O mundo dos textos precedem e procedem a existência e os vícios são viciados. Escrever é vício e escrever sobre escrever é confissão.

Gostaria de escrever poesia, mas não sou devasso o suficiente. Por isso os poemas não se apaixonam por mim. Então transo com qualquer texto, comezinho, desses que se encontram a granel em prateleiras de bodega. Mas sou apaixonado por esses textos vulgares que me possuindo deixam-se possuir; essa ilusão mútua de posse.

Construir poesias é escrever entrelinhas. Escrevo sempre linhas, tão igualmente paralelas, na esperança de que as entrelinhas se mostrem despudoradas em cada leitura.

Textos são sempre inconclusões e sou sempre texto inconcluso, caminho, vereda, senda, sendo. Escrevo textos para nunca me repetir, me repetindo. Para me ler de novo e novamente não me entender. Escrevo pela saudade de me incompreender.

Não sonho com textos perfeitos, busco a cada dia a imperfeição, a insignificância e a invalidez. Gostaria de escrever um texto tanto faz, que pudesse ser não lido pela maioria da humanidade.

Textualizar sobras e vazios, libertar o texto da semântica e continuar produzindo sentido, seria a tarefa máxima que me proporia se pudesse. Na impossibilidade disso, escrevo apenas.

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