quarta-feira, 10 de julho de 2013

O maior escândalo dos últimos anos

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Para os moradores da Vila Maravila,  a derrota do Brasil para o Paraguai pelas eliminatórias da Copa do Mundo,  na fatídica terça-feira de 18 de julho de 2000,  constitui-se evidentemente no maior escândalo dos últimos vinte anos.

Que a corrupção tenha ramificações no Planalto é esperado,  que o narcotráfico tenha representantes no Congresso não é nenhuma novidade,  mas derrota da seleção brasileira,  ainda mais em jogo oficial,  é absurdamente escandaloso.

O fato é que a bola é o único elemento de identificação nacional.  Somos realmente um país chamado Brasil porque jogamos futebol e jogamos bem.  Aquilo que muitos países almejam e se esforçam para conseguir,  nós o fazemos naturalmente,  sem muito esforço,  e o fazemos melhor do que todos.  De Roraima ao Rio Grande do Sul,  de Goiás a Pernambuco,  todos (são inexpressivas as exceções) sabemos conduzir muito bem a bola com os pés.

Por isso,  a derrota para o Paraguai é catastrófica e escandalosa e deixou os pacíficos moradores da Vila indignados e deprimidos.  Afinal,  temos o melhor futebol do mundo,  somos oficialmente a melhor seleção de futebol do mundo e,  pelo que nos consta,  além de em má distribuição de renda,  leishmanniose,  chaguíase e alguma outra doença tropical exótica,  não somos os melhores do mundo em mais nada.  É vergonhoso que os jogadores da seleção brasileira,  nossos únicos,  legítimos e bem pagos representantes,  tenham sido derrotados pelo país vizinho.

É lugar comum dizer que o futebol é um esporte democrático,  mas sem dúvida é a nossa mais importante atividade comunitária e o nosso mais importante fator de integração nacional.  Falta apenas a pesquisa sociológica confirmar que a unidade nacional foi começada a partir da introdução do futebol por Charles Miller no Brasil,  e completada entre 1950 e 1962,  do período que vai da derrota para o Uruguai em pleno Maracanã à conquista do bicampeonato mundial no Chile.

Os furiosos comentadores da Vila ressentiam-se de que estivessem querendo transformar o nosso esporte comunitário e integrador em um grande negócio.  Lançados no imenso mercado globalizado,  nossos jogadores foram forçados a se adaptar,  pelo técnico é claro,  ao modo de jogar dos outros países e,  em vez de jogar para frente,  dar “banho de cuia” e fazer gol de bicicleta,  aprendemos a tocar de lado e a atrasar a bola para o goleiro (que todo mundo sabe que é a coisa mais vergonhosa do futebol).  A solução é óbvia:  demite-se o técnico e convidamos os argentinos para um racha.  Aí vamos ver quem é quem.  Se essa medida der certo,  podemos pensar em aplicá-la no Planalto. 


(Esse texto se encontra no livro “Vila Maravila: um lugar diferente e cheio de graça”. O livro pode ser adquirido em contato com o autor ou na Livraria Nobel, Av. Getúlio Vargas, 2410, Feira de Santana – BA.)

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