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Para os
moradores da Vila Maravila, a derrota do
Brasil para o Paraguai pelas eliminatórias da Copa do Mundo, na fatídica terça-feira de 18 de julho de
2000, constitui-se evidentemente no
maior escândalo dos últimos vinte anos.
Que a
corrupção tenha ramificações no Planalto é esperado, que o narcotráfico tenha representantes no
Congresso não é nenhuma novidade, mas
derrota da seleção brasileira, ainda
mais em jogo oficial, é absurdamente
escandaloso.
O fato é que a
bola é o único elemento de identificação nacional. Somos realmente um país chamado Brasil porque
jogamos futebol e jogamos bem. Aquilo
que muitos países almejam e se esforçam para conseguir, nós o fazemos naturalmente, sem muito esforço, e o fazemos melhor do que todos. De Roraima ao Rio Grande do Sul, de Goiás a Pernambuco, todos (são inexpressivas as exceções) sabemos
conduzir muito bem a bola com os pés.
Por isso, a derrota para o Paraguai é catastrófica e
escandalosa e deixou os pacíficos moradores da Vila indignados e
deprimidos. Afinal, temos o melhor futebol do mundo, somos oficialmente a melhor seleção de
futebol do mundo e, pelo que nos
consta, além de em má distribuição de
renda, leishmanniose, chaguíase e alguma outra doença tropical
exótica, não somos os melhores do mundo
em mais nada. É vergonhoso que os
jogadores da seleção brasileira, nossos
únicos, legítimos e bem pagos
representantes, tenham sido derrotados
pelo país vizinho.
É lugar comum
dizer que o futebol é um esporte democrático,
mas sem dúvida é a nossa mais importante atividade comunitária e o nosso
mais importante fator de integração nacional.
Falta apenas a pesquisa sociológica confirmar que a unidade nacional foi
começada a partir da introdução do futebol por Charles Miller no Brasil, e completada entre 1950 e 1962, do período que vai da derrota para o Uruguai em pleno Maracanã à
conquista do bicampeonato mundial no Chile.
Os furiosos comentadores da Vila ressentiam-se
de que estivessem querendo transformar o nosso esporte comunitário e integrador
em um grande negócio. Lançados no imenso
mercado globalizado, nossos jogadores
foram forçados a se adaptar, pelo
técnico é claro, ao modo de jogar dos
outros países e, em vez de jogar para frente, dar “banho de cuia” e fazer gol de
bicicleta, aprendemos a tocar de lado e
a atrasar a bola para o goleiro (que todo mundo sabe que é a coisa mais
vergonhosa do futebol). A solução é
óbvia: demite-se o técnico e convidamos
os argentinos para um racha. Aí vamos
ver quem é quem. Se essa medida der
certo, podemos pensar em aplicá-la no
Planalto.
(Esse texto se encontra no livro “Vila
Maravila: um lugar diferente e cheio de graça”. O livro pode ser adquirido em
contato com o autor ou na Livraria Nobel, Av. Getúlio Vargas, 2410, Feira de
Santana – BA.)
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