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Cruzei com um
irritado Paranísio, fora do seu habitual jeito irreverente e divertido, e não
pude deixar de tentar descobrir a causa de seu inusitado mau humor. Surpreso,
descobri que o motivo fora que, em recente reunião de ONG’s, o seu Sindicato
dos Ambulantes de Vila Maravila não fora convidado a participar, exatamente
quando a consulta buscava soluções concretas para o futuro do Brasil e o seu
sindicato se constituía, na sua opinião, no único sindicato de vergonha de todo
o país..
– O pirão
quente só se come pelas beiras – tentou me explicar Paranísio e não entendendo
eu ainda, pacientemente, abriu para a minha compreensão elitista insuspeitados
e sugestivos horizontes de uma autêntica sociologia popular.
Na Vila Maravila,
nas margens da vida e da história, Paranísio e o seu sindicato vinham liderando
uma silenciosa e surpreendente revolução. Com a imagem de uma sociedade futura
diferente na cabeça, promovendo reuniões participativas, negociando soluções
comunitárias com diferentes grupos, atividades conjuntas e criativas haviam
gradativamente transformado a Vila em um novo lugar. Árvores, flores, muros de
arrimo, escadas de cimento, chafariz, telefones públicos, rádio comunitária,
creche, escola, cursos alternativos, áreas e atividades de lazer, foram
brotando dessas pequenas atitudes e transformando o amontoado amorfo da Vila em
uma comunidade organizada, consciente, combativa e criativa.
Se o país
então, na linguagem de Paranísio, havia se tornado esse escaldado pirão, só
poderia ser digerido a partir de suas periferias, através das soluções
marginais e da criatividade das beiras.
Lembrei de
Thomas Kuhn e sua tese de que as revoluções científicas com os seus novos
paradigmas não vinham nunca da ciência oficial, ou de um especialista na área,
mas de uma ciência marginal, muitas vezes através de um desconhecido e atrevido
cientista de formação insuficiente para o tipo de pesquisa que realizava. E
lembrei de Jesus e de sua atração pelas periferias.
(Esse texto se encontra no livro “Vila
Maravila: um lugar diferente e cheio de graça”. O livro pode ser adquirido em
contato com o autor ou na Livraria Nobel, Av. Getúlio Vargas, 2410, Feira de
Santana – BA.)
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