terça-feira, 16 de julho de 2013

Agramaticoalhada


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Desde o momento em que descobri que a língua é dinâmica, modificada ao longo do tempo pelo uso e desuso do povo, vivo emimesmado, desejoso de deflagrar ou pelo menos de ajudar a deflagrar uma revolução lingüística. Proponho, inclusive, talvez mania de acadêmico ou então de revolucionário, que abandonemos posturas espontaneístas e organizemos a revolução, propondo novidades e conclamando o povo a integrar as novidades propostas no seu linguajar cotidiano.

Conclamamos primeiro o povo a conjugar nomes próprios que tenham terminações verbais, o que nos permitirá belíssimas e novas concordâncias. Nomes como Jair, Altevir, Althusser, Aguiar, nomes próprios-verbais infinitivos (os gramáticos que depois classifiquem) ou nomes como Caio, nome próprio-verbal presente indicativo, ou Soares, nome próprio-verbal subjuntivo futuro, por exemplo.

As sugestivas conjugações trariam frases do seguinte teor. “O Jafoi viajou a semana passada”. “O Altevirá está se dirigindo para o local combinado”. “O Soaria desistiu de falar amanhã.” “A firma de Caiu abriu falência.” “O Aguiava vendeu o automóvel.” “Tomara que o Althusseja venha logo.”

Ou: “Ó, Javais, aparece logo!” “O Althussera perdeu o emprego.” “Quando Altevieres novamente me informe” (percebam a belíssima elipse do verbo). “Toda a família Soareis aproximai-vos”, ou “toda a família Soareis aproxime-se” (a concordância – se o povo concordar – poderia ser feita das duas maneiras). “O Caindo está jogando bola.”

Conclamamos o povo a criar novos verbos, como o estético verbo adornecer. Percebam a pureza da imagem contida na expressão: “minha criança adorneceu suavemente”. E a criar adjetivos específicos com associados (mas não iguais) verbos específicos. Para a complexa questão da reforma agrária, o específico adjetivo incrabulado. “Os sem-terra estão incrabulados com as providências governamentais.” E o associado, mas discretamente diferente (percebam a força de um “r” a mais), verbo incraburlar. “O Ministério da Reforma Agrária pretende incraburlar medidas cabíveis para desenvolver os assentamentos”.

Há um conjunto de verbos sinônimos (na verdade não há sinônimos, garantem os lingüistas, o que permitiria eruditas discussões) que precisariam ser criados imediatamente. Qual a precisa e preciosa diferença semântica entre os verbos falablablar, falabobar, falabestar e falaburrar? “Em pronunciamento sobre a Reforma Tributária, o ministro falablablou durante duas horas ininterruptas.” “Desculpe-me o companheiro gramático, mas aqui seria mais bem apropriado empregar: o ministro falabestou.” “Sinto muito, mas quem acaba de falaburrar é o companheiro.” E vamos todos assim falabobando.

Criando o verbo supirar estaríamos subentendendo o descomunal e desproposital esforço que se faz em competições e poderíamos garantir (aludindo sem mencionar) inclusive a privacidade de um campeão como o Schumacher depois da conquista do hexacampeonato mundial de fórmula um. Bastava dizer que o mesmo supirou a histórica marca de Fângio e a comemoração descontrolada já teria ficado implícita.

Finalmente, conclamamos todo o nosso politizado povo a incluir no seu vocabulário o paradoxalmente honesto verbo promentir.  Além das vantagens lógicas do seu emprego cotidiano, os políticos poderiam finalmente usar um verbo sem medo de processo legal posterior. “Eu prominto que quando for eleito construirei quatrocentos hospitais e duzentas maternidades neste nosso pequeno porém decente município”. Vejam como seria imprópria qualquer tipo de reclamação: “sua excelência promentiu que ...”

E que continue a caminhar a nossa língua com novas e apropiadas inclusões.


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